Maldito Cliffhanger

Maldito Cliffhanger

No último domingo tivemos o encerramento da 6ª temporada de The Walking Dead, que terminou com um cliffhanger¹ agonizante… Serão mais de seis meses de espera, caso o lançamento da próxima temporada não seja adiado, para saber qual das lindas cabeças do elenco bateu um papo íntimo com Lucille, a arma preferida de Negan (Jeffrey Dean Morgan). Sabemos o que aconteceu, mas não com quem aconteceu… E por mais que tentemos adivinhar fazendo o uni-duni-tê junto com Negan na cena final, ele não segue uma ordem na hora de apontar o bastão, o que dificulta a dedução de quem foi vítima de sua psicopatia sadista.

A AMC já anunciou que não pretende encerrar The Walking Dead tão cedo… E o que pode trazer algum consolo para os fãs é a certeza de que vai haver uma continuidade e com ela virão (taquicardia e dores no peito) as respostas, mas muitas séries que terminaram temporadas com cliffhangers não tiveram a mesma sorte, e para quem gostava e assistia esses programas foi necessária muita conformidade para aceitar que as conclusões nunca viriam. Então decidimos listar três programas de drama, horror e mistério que foram queridinhos de audiência e acabaram cancelados, terminaram em clima de tensão e deixaram várias pontas soltas…

The Following (2013-2015)

A série estreou com uma proposta inovadora e muito bem executada; e se não valesse pelo enredo, valeria para ver o Kevin Bacon correndo com uma arma na mão. Acredite, é muito engraçado.

Na trama, o serial killer Joe Carroll (James Purefoy), conseguia, de dentro de uma prisão de segurança máxima, manter contato e fazer planos com seu grupo de seguidores. Por duas temporadas o programa trabalha com a dinâmica de cultos, que são muito comuns nos Estados Unidos, e a fixação de Joe pelo agente do FBI responsável por seu encarceramento, Ryan Hardy (Kevin Bacon)… Entretanto, a 3ª temporada vem com uma proposta diferente, que traz a tona o que podemos chamar de briga de cachorro grande. Em sua ideia inicial, a série mostra que nenhum assassino trabalha 100% sozinho. Embora tenham nascido com sociopatia/psicopatia, não nasceram sabendo matar. Eles possuíam o desejo, mas precisaram ser treinados e ensinados como matar com segurança. Assim sendo, alguns deles se conhecem, sabem se encontrar, funcionam como mentores para os mais jovens, e ajudam uns aos outros quando necessário… Tudo em nome de uma boa derramação de sangue e desde que não sejam expostos publicamente.

Em certo ponto, a caçada de Ryan pelos serial killers que vão surgindo começa a ameaçar a privacidade de alguns desses indivíduos, que decidem se unir para destruir, em nome da vingança ou da autopreservação, o agente do FBI e todos os seus entes queridos. E assim, poucos episódios antes do fim da 3ª temporada uma nova trama se apresenta, mostrando para Ryan e para o público que as pessoas contra as quais ele vem lutando não são apenas simples assassinos de periferia socialmente excluídos, mas que também há uma classe de poderosos protegidos por exorbitantes quantias de dinheiro e influência pública. A série termina nesse imenso cliffhanger, provavelmente o maior desde seu início e contando com a certeza de ter audiência para temporadas futuras, mas nem tudo saiu como planejado… O programa foi cancelado deixando os fãs enlouquecidos, movendo petições para conseguir pelo menos um encerramento apropriado.

Hannibal (2013-2015)

Talvez você esteja pensando que Hannibal teve um final, e portanto, não deveria estar incluída nessa lista, mas eu vou explicar o motivo de estar aqui… Embora tenha recebido um roteiro de finalização, não é difícil perceber que aquele encerramento foi totalmente forçado para não deixa a série em aberto. Houve uma correria dos autores para encaixar soluções (meia-boca) as tramas que vinham sendo apresentadas, e para dar uma resolução à situação de Will Graham (Hugh Dancy) e Dr. Lecter (Mads Mikkelsen) de forma que não houvesse brechas para os fãs aguardarem uma nova temporada.

O motivo disso é de conhecimento geral, o programa foi cancelado com justificativa de perda de audiência, a qual acredito que ninguém engoliu… O que parece ser mais provável é que ela tenha sido censurada e descontinuada pelo caráter visceral de sua proposta, e pela paixão do público pelo serial killer em questão… E a mesma lógica se aplicaria a The Following. Tudo indica está havendo um tipo de caça às bruxas, só que no caso, aos programas policiais nos quais os assassinos se tornam socialmente mais aclamados que os mocinhos.

Em parte, o fim de Hannibal foi bem considerado com os sentimentos dos fãs; Antes aquilo do que ficar para sempre sem saber o que poderia ter acontecido, mas para uma série desse nível, o final apresentado não foi nada satisfatório, especialmente por não soar de fato como uma conclusão, e sim como começo de uma relação mais honesta entre Will e o doutor canibal. Ainda que a última cena sugira um acontecimento irredutível, para quem gostava do show não é tão impossível imaginar uma continuação e um outro desfecho…

Angel (1999-2004)

Essa série, que surgiu como um spin-off² de Buffy³, fala sobre Angel (David Boreanaz), um dos vampiros mais terríveis da história que foi amaldiçoado e teve sua alma restaurada. Fadado a sofrer com o peso na consciência das atrocidades que cometeu antes de receber sua alma de volta, e sem poder experimentar um segundo sequer de felicidade sem arriscar perdê-la, Angel decide dedicar sua existência no combate contra o mal. É preciso dizer que nessa realidade nem todos os demônios são ruins, e com a ajuda de alguns amigos (demônios e humanos), ele se empenha em caçadas isoladas a seres verdadeiramente malignos, e a uma briga mais direcionada contra uma firma de advocacia que age na cidade de Los Angeles com financiamento direto do tinhoso.

Quando Angel finalmente consegue fazer o bem mais presente do que o mal, ele destrói o equilíbrio que deveria existir entre essas forças, o que o leva a acidentalmente desencadear um apocalipse. Assim se encerra a 5ª temporada da série e a série como um todo… Enquanto Buffy teve um final apropriado, Angel é cancelada no nascer desse apocalipse, com todo o seu grupo desfalcado e sem saber quem sobreviveu para continuar a seu lado na luta, e ainda que também tenha sua continuação em comic book, não é o mesmo que assistir ao desfecho de uma história dessas proporções com os atores em ação.

Vale dizer, para quem gosta de programas dessas natureza, que Buffy e Angel são consideradas predecessoras de Supernatural nessa classificação… Mais de dez atores do elenco das séries originais de Joss Whedon já fizeram participações especiais no programa dos irmãos Winchester, e há muito debate na internet sobre similaridades e crossovers⁴ entre as séries.

***

Se você tem problemas com falta de conclusão, especialmente durante o clímax de uma história, não aconselhamos que assista a nenhuma dessas séries… Talvez apenas Hannibal, que apesar dos pesares teve uma conclusão, ainda que não tenha sido a ideal… Mas se você, assim como eu, já tem anos de experiência com seus programas favoritos sendo cancelados durante o maldito cliffhanger, sem mais, nem menos, e já não se afeta tanto por não saber como tudo vai terminar, fica aí a dica de três ótimos programas com as quais se entreter enquanto você aguarda o fim do hiato dos shows que costuma acompanhar.

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¹ Cliffhanger: É um recurso de roteiro utilizado em ficção, que se caracteriza pela exposição do personagem (ou personagens) a uma situação limite, precária, tal como um dilema, suspense, confronto, ou uma revelação surpreendente.

² Spin-off:  é um programa ou qualquer obra narrativa derivada de uma ou mais obras já existentes. A diferença entre um spin-off e uma obra original é que ele se concentra, em particular, mais detalhadamente em apenas um aspecto, por exemplo, um tema especifico, personagem ou evento.

³ Buffy: foi uma série criada por Joss Whedon em 1997. A narrativa segue a vida de Buffy Summers (Sarah Michelle Gellar), a mais recente numa linha de jovens mulheres conhecidas como Caçadoras. As Caçadoras são escolhidas pelo destino para a batalha contra vampiros, demônios, e outras forças das trevas. Tal como anteriores Caçadoras, Buffy é auxiliada por um Conselho de Sentinelas, que orienta, ensina, e as conduz. Ela também conta com a ajuda de um círculo de amigos leais, que se torna conhecido como Scooby-Gang. Angel é introduzido logo nos primeiros episódios da série, e esconde sua condição de vampiro para se aproximar da Caçadora, por quem está apaixonado. Ao fim da 3ª temporada, Angel deixa a série para ganhar um programa só dele.

Crossover: é um evento fictício em que dois ou mais personagens, cenários ou acontecimentos sem qualquer relação anterior em produtos de mídia (filmes, quadrinhos, seriados, etc) que passam a interagir compartilhando o mesmo ambiente narrativo.

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Negan e o futuro de The Walking Dead

Negan e o futuro de The Walking Dead

AVISO
CONTÉM SPOILERS SOBRE O UNIVERSO DE TWD
SE NÃO QUISER SABER, NÃO LEIA!

Produzida pelo canal americano AMC e exibida pela Fox Brasil, The Walking Dead se tornou um dos programas favoritos do público desde o lançamento, em 2010. Seus personagens cativantes e a inteligência dos autores em terminar (quase todos) os episódios e obrigatoriamente todas as temporadas com cliffhangers¹ chocantes são bons exemplos de como manter o sucesso e a audiência crescentes. Falta apenas um episódio para a conclusão da sexta temporada, o que para fãs significa uma morte péssima, literalmente… Para quem está familiarizado com a série, todo season finale² é relativamente igual; Alguns personagens importantes morrem, enquanto outros são capturados por grupos rivais e permanecem desaparecidos… Só voltam a ser mencionados na temporada seguinte, o que nos leva a meses de ansiedade sem saber se aquele queridinho vai passar apenas alguns episódios desfalcado do grupo ou morrer.

Em meio a tantas dúvidas apenas uma coisa é certa, o objetivo dos roteiristas é brincar com os nossos sentimentos. E para provar isso podemos fazer uso de um personagem de peso nos quadrinhos que finalmente começou a ser introduzido na versão televisionada. O nome Negan vem sendo citado por meses. Embora gradativamente sua imagem tenha deixado de ser tão abstrata, até o season finale ele não foi propriamente apresentado. As representações que cercam esse indivíduo deixam claras, desde o começo, o caráter desse antagonista, que demonstra ser pior do que o finado Governador. Interpretado pelo ator Jeffrey Dean Morgan (Supernatural), Negan surge como charmoso e encantador, ainda que bastante agressivo… Diferentemente do Governador, que comandava um pequeno complexo de cidadãos majoritariamente despreparados, Negan é o chefe dos Salvadores, um grupo de homens violentos cuja moeda de troca é a chantagem, coerção, e por fim o assassinato de todos que não acatam as suas exigências.

No contexto do que já foi exibido da série, Negan também é apresentado como um tipo de organização. Em dado momento, alguns membros do grupo dos Salvadores são confrontados sobre a identidade de seu chefe. Quando questionados, eles atribuem a si mesmos esse título com “Nós somos Negan”, o que remete a um comportamento de cultuação. Só isso já seria suficiente para revelar o poder de controle e persuasão do personagem. Tudo que seus seguidores fazem demonstra ser em proveito dele e do que ele construiu. Que forma melhor de convencer alguém a morrer e matar por você do que torná-lo parte crucial daquilo que você criou? Em meio ao caos de uma realidade pós-apocalíptica, e a julgar também pelo nome atribuído àqueles que trabalham em seu benefício (Salvadores), é de se supor que a imagem de Negan seja abordada de forma religiosa, como alguém a ser seguido, temido e adorado.

Apesar de toda a tensão que cerca esse novo núcleo de antagonistas, o que torna curioso o desenrolar da sétima temporada é justamente o carisma do bandido em questão. O Governador tinha seu charme, mas Negan parece ser bem mais competente que ele no que diz respeito à conquista e controle. Com um senso de humor peculiar e paixão por bombas, sua arma preferida é Lucille, um taco de baseball enrolado com arame farpado. Embora mate de cara um dos preferidos do público na HQ, o que causa um grande impacto no grupo, a incerteza de que esse acontecimento seja trazido para a série tem sido um dos causadores de maior ansiedade entre os fãs, principalmente pela possibilidade de que essa morte seja rearranjada para outro personagem. Sim, estamos falando sobre Daryl, que sequer existe na história original e pode se tornar o alvo, tendo em vista que é um dos pilares da turma do Rick e pela predileção popular por ele já ter causado incômodo nos roteiristas.

Com os quadrinhos ainda sendo escritos, e para somar mais de imprecisão ao caminho que a série irá tomar, na leitura Rick declara guerra a seus adversários, e conta com a ajuda de Jesus, da comunidade Hilltop e do ainda não apresentado Rei Ezekiel, de uma comunidade chamada O Reino, o que novamente sugere o caráter religioso que vem tomando forma no programa. No arco do comic book lançado mais recentemente, Negan ainda é um personagem ativo e muito presente na vida de Rick. Ele tem um laço único com Carl… Não sabemos se esse relacionamento será explorado nem a maneira como isso vai se dar, mas sabemos que Negan é um tirano que veio para mudar o rumo de toda a história. Para completar, a mensagem que Morgan prega que toda vida é preciosa, vai afetar o inconsciente de Rick como vem sendo mostrado que afetou o de Carol, e as perdas que essa ideologia irá trazer para o grupo, só esperando para saber…

Creio que o desenrolar da próxima temporada seja vital para definir a renovação ou o cancelamento da versão televisionada dessa obra. Embora o alcance de The Walking Dead seja grande, a morte de determinados personagens tem pleno poder de provocar o desinteresse do público. Robert Kirkman que pense bem no que ele vai fazer…

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¹ Cliffhanger: É um recurso de roteiro utilizado em ficção, que se caracteriza pela exposição do personagem (ou personagens) a uma situação limite, precária, tal como um dilema, suspense, confronto, ou uma revelação surpreendente.

² Season Finale: Significa “final de temporada” e se refere ao último episódio de uma temporada quando ainda há outra posterior. Caso seja o episódio final do programa como um todo, o termo correto seria Series Finale.

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