O Esnobismo do Brasileiro

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Em meio a maior crise econômica pela qual o país já passou, todos se preparam para as Olimpíadas, exceto os brasileiros sensatos. Eu particularmente prefiro o termo OlimPiadas… Além da vergonha internacional em larga escala a qual o Brasil foi submetido pelos escândalos políticos, viramos alvo de diversas sátiras e críticas que considero bem merecidas. Mas, para justificar minha ojeriza ao evento, vou ilustrar o circo lembrando do que ocorreu apenas na semana passada:

Temos obras inacabadas, superfaturadas e malfeitas, risco de ataque terrorista, sequestro relâmpago de atletas, despreparo das forças de segurança em todos os níveis, falta de recursos em hospitais para atender a qualquer demanda, prováveis catástrofes com desabamentos, mortos e feridos pelas obras que citei acima ou qualquer outra desgraça que possa ocorrer, Vila Olímpica aos cacos, Bahia de Guanabara mais radioativa que o lixão da Dona Lucinda… Já chega, não é?

Não, não é. Antes fossem só esses os problemas do país. Nosso currículo está realmente podre! Nunca as taxas de desemprego foram tão altas. Por todos os lados, cortes em empresas colocam funcionários com anos de carreira com agenda toda livre. Há também a troca de profissionais graduados por estagiários. Eles são mais baratos, e não se engane, aquele que for fisgado nessa pescaria terá que desempenhar as funções de quem antigamente era considerado tubarão. Quem aguentar o tranco com certeza vai aprender bastante, mas não é todo mundo que consegue encarar tanta responsabilidade de cara.

Enquanto isso, do outro lado do oceano, o tubarão se vê reduzido a plâncton em pleno vazamento de óleo. A quem está sem emprego resta muita incerteza sobre o futuro, além da atribulação de questões (i)morais completamente enlouquecedoras. Primeiro vem o choque: um dia você mal tem tempo para assistir um filme, no outro, pode embarcar numa maratona na Netflix, pois tempo é tudo o que você tem. Em princípio pode ser que soe como um bom descanso, necessário e merecido, mas em questão de horas isso se torna um dos maiores tormentos que um adulto poderia enfrentar.

Quando você experimenta a dura realidade de estar cadastrado em mais de 20 sites de vagas, enviando currículos para diversos cargos – inclusive inferiores a sua formação e experiência, e não recebe NENHUM feedback de NENHUMA empresa, a coisa realmente começa a te consumir fisicamente. Todo esse estresse age como veneno no corpo. Surgem coceiras aqui, pintas ali, o cabelo cai, a pele fica terrível, a insônia surge, a libido desaparece, e em algum momento você começa a desejar a morte. E entende que talvez precise de uma ajuda psiquiátrica, mas, cadê a grana para pagar o plano de saúde?

Eventualmente, você se vê diante da opção de se candidatar a vaga de caixa em loja de departamento, atendente de farmácia, garçom, e até pensa em prostituição… Mesmo que se consiga ultrapassar o esnobismo em prol da necessidade de sobrevivência, em certo grau e ainda que de forma camuflada, ele fala mais alto. Seus desejos internos pedem que não venha nenhuma resposta daquela vaga, já que não vieram de tantas outras. O caso aqui não é desprezar a dignidade do trabalho de atendente ou garçom, mas é ter que engolir que você estudou e trabalhou para não ter que servir ninguém, e agora talvez tenha que recorrer a essa opção para poder se sustentar.

Se imaginar naquele cargo se torna inevitável, a imagem dos tipos de pessoa que você terá que servilmente servir ficam nítidas: ex companheiros de trabalho e demais atividades, amigos, conhecidos, pessoas que te odeiam, pessoas que você odeia, pessoas que iam se regozijar de saber que você está fodido carregando uma bandeja para poder sobreviver, pois você virou vítima da crise. Com isso, os sentimentos de incompetência, impotência e injustiça se tornam abrasadores. Você não deveria estar passando por aquilo… E não é a toa que tanta gente cometa suicídio diante da falência.

Há quem passe por cima desse orgulho com praticidade, mas em geral, para a maior parte das pessoas é muito difícil aceitar se sujeitar a essa mudança radical. Isso me faz pensar num assunto que foi bastante debatido enquanto rolavam manifestações pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff. Uma família foi “fazer a sua parte” e protestar contra o governo, e levou consigo a babá que empurrava o carrinho de uma criança. A imagem foi registrada e viralizou na internet. Entre o burburinho causado nas redes sociais, uma questão foi levantada e permaneceu no meu inconsciente.

A tal família, muito condenada por sua atitude, publicou uma carta aberta apontando o quão digno era o trabalho daquela babá, que ela era um membro da família, estava recebendo todos os direitos previstos pela lei e que não havia vergonha nenhuma naquele trabalho. É verdade, mas, em sábia resposta alguém rebateu: “o dia que um abastado crescer querendo ser babá, faxineira ou garçom, nós voltamos a essa discussão.” Embora pareça extremamente esnobe colocar a situação dessa forma, em preto ou branco, sem considerar o cinza e as outras cores, estamos lidando com a verdade nua e crua.

E para alguém que ocupava um cargo de prestígio, de repente se ver colocando currículos para vagas financeiramente e em termos de formação, inferiores, é um tapa na cara. Você valoriza essas profissões, desde que não tenha que desempenha-las. Isso é sim um tipo de hipocrisia, e ela pode ditar se você vai sobreviver a crise ou afundar com ela. A divisão de classes foi e sempre será uma pedra no caminho da evolução social. E olha que eu não sou comunista, sou pró capitalismo, mas ele é cruel, é para poucos, e muitos que desfrutavam dele, hoje já não podem mais.

Para consertar o país seria necessário consertar seus cidadãos, ou pelo menos ensinar-lhes o real conceito de cidadania e igualdade, que não tem nada a ver com justiça, mas fariam diferença para o convívio em sociedade. Seria necessário derrubar as barreiras que criamos entre A, B, C e lembrar que existem pessoas abaixo da linha da pobreza que adorariam ter a opção de poder servir mesas para levar o sustento para casa. Seria preciso entender que enquanto a gente reclama que não pode mais ir ao cinema como antes, muitos não tem um teto, nem o que comer.

Vamos repensar nossos preconceitos, abandonemos o esnobismo…

Não é vergonha tê-los, mas é vergonhoso querer mantê-los.

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Nem Sempre Confesse

Nem Sempre Confesse

Resolvi aproveitar o clima do confesse que está rolando por causa de Game of Thrones para publicar esse texto que está há meses na minha gaveta… Isso poderia ter sido um desabafo, uma confissão cara a cara, mas optei que não fosse, pois se confessar nem sempre vale a pena.

Conheço uma mulher há tantos anos que meu primeiro instinto é chamá-la de menina. Bom, ela já fez 20 e muitos anos e nós comemoraríamos duas décadas de amizade… Se ainda fossemos amigas. Decidi não transformar meus incômodos e mágoas com ela numa DR, muito menos numa tentativa de consertar as coisas entre nós. É de se esperar que em tanto tempo nós tenhamos tido os nossos atritos e breves períodos brigadas uma com a outra. Não era uma amizade perfeita e nem teria como ser, uma vez que nós não o somos.

Passamos por muitas coisas juntas e no ano passado houve um incidente que invocou o basta dentro de mim. Depois de certa experiência com as pessoas você se torna mais prático na vida, e passa a decidir por quais lutas vale a pena brigar, e por essa não valia. Em nossos raros contatos, antes do momento basta, voltávamos àquela velha máxima de “vamos marcar”, e nunca de fato marcávamos. Eu tentava, mas aos poucos fui notando que essa manifestação da parte dela era totalmente vazia. Também fui chegando à conclusão que eu não sabia nada sobre a vida daquela grande amiga de longa data, mas que sempre que nos falávamos eu contava tudo o que havia acontecido na minha.

***

Outro dia vi a história de David que, ao começar a amadurecer deixou de lado seu melhor amigo de infância, Scott. O primeiro já pensava em namoro, enquanto o segundo ainda se agarrava aos velhos hábitos de infância. Havia uma crescente diferença de interesses entre os dois, e nenhum adolescente conseguiria lidar com essa situação com sabedoria emocional. David então acabou se afastando de Scott por achar que seu comportamento atrapalhava sua imagem perante os colegas.

E o que aconteceu no decorrer da narrativa surpreendeu a todos… Scott estava fazendo aniversário e não abriu mão da presença de seu melhor amigo durante a comemoração. Forçado a ir pelos pais, que nunca tem noção do quanto seus filhos são capazes de mudar do dia para a noite, David compareceu. E, durante a festa, Scott sofre um acidente e morre. David, que estava odiando cada segundo presencia o acidente e embarca num espiral de culpa por ter sido negligente com aquele que havia sido seu primeiro e único amigo de longa data.

No dia seguinte, na escola, embora 97% dos alunos do colégio sequer soubesse quem Scott era, tomar consciência de que alguém que caminhava naqueles mesmos corredores ontem, está morto agora, abala a ideia que os jovens costumam ter de que esse tipo de coisa nunca vai acontecer com eles ou com alguém próximo. Logo começam a inquerir David sobre Scott, seus hábitos e gostos, e isso o tira do sério. O adolescente explode diante de todos.

Ele admite que vinha sendo um péssimo amigo para Scott, mas acusa todos ao seu redor de também estarem sendo. Ressalta que embora estivesse tratando Scott mal, essas pessoas que agora parecem super interessadas nele também o tratavam mal o tempo todo. Que não faz diferença nenhuma que queiram conhecer Scott, agora que ele está morto, através de suas memórias, e que ao invés disso deveriam demonstrar um mínimo de interesse, cuidado e carinho por aqueles que chamam de amigos e ainda estão vivos.

***

Eu demorei a perceber que eu era amiga daquela mulher, mas que, por diversos fatores ela não era minha amiga. O caso é que existem conflitos e diferenças pessoais que podemos superar, e outras ocorrências que às vezes sequer podem receber essas denominações pois não passam de acontecimentos naturais da vida, mas que nos levam por caminhos opostos, e que podem terminar de descascar aquele pneu careca em que uma relação havia se tornado e determinar a estrada que uma amizade irá tomar.

O foco aqui não é falar sobre o que aconteceu comigo, nem com o David e o Scott, mas usar esses cases como exemplo para que talvez você possa refletir e reconhecer algo de errado nas suas relações. Para que haja tempo de evitar o afundamento do barco, caso se julgue possível e seja da vontade de ambos. E não só isso, o tópico é também explicar que eu escolhi o naufrágio dessa amizade, pois acredito que não devemos lutar por certas coisas. As relações – e isso é uma verdade universal – são uma via de mão dupla.

Na medida do possível, tente não cobrar e não exigir nada de ninguém. Na verdade, quanto menos você precisar emocionalmente dos outros, melhor para você, mas caso tenha certas dependências emocionais, entenda, se o carinho ou a amizade não vierem naturalmente é porque o outro não quer, não acha importante, não tem interesse. Não se diminua e não mendigue atenção como o Scott fez para se agarrar ao David, não ignore o que te incomoda e empurre mágoas com a barriga como eu fiz para evitar conflitos.

Se você acha que a sua relação com alguém é frágil e não vai resistir a mais uma ou duas pancadas, ou simplesmente, não vale a pena se indispor desse jeito por motivo nenhum, é provável que nem exista mais uma relação para ser salva, apenas a lembrança do que um dia ela foi. Você não precisa entrar num pé de guerra e terminar algo de forma desagradável só para reforçar o status que de certa forma já era vigente. Pior que perder um amigo é querer forçar alguém a querer continuar a ser seu amigo… Não confesse. Deixe estar… E de vez em quando, ria das boas lembranças que você vai inevitavelmente guardar.

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One Last Prince

One Last Prince

Na manhã do dia 21 de abril 2016, Prince, que vinha lutando contra um resfriado há semanas, foi declarado morto após ser encontrado desacordado no elevador de sua casa, em Minnesota, ao norte dos Estados Unidos. Apesar dos primeiros socorros devidamente prestados, não foi possível reanimar o cantor, que já havia sido levado ao hospital no dia 15 em estado de emergência com desidratação severa.

Prince era seu nome real. Nascido em 7 de Junho de 1958, ele, que mais tarde se tornaria um ícone mundial, demonstrou interesse por música ainda muito jovem, escrevendo sua primeira letra com apenas 7 anos. Virtuoso e visionário, Prince se esforçou para crescer como um artista multi-instrumentalista. Seu primeiro disco foi lançado aos 19 anos, em 1978. Entitulado “For You”, o álbum conta com a performance de Prince em todos os instrumentos, em absolutamente todas as faixas. Com batidas de funk, rock e dance music, letras sexualmente provocativas e baladas de cortar o coração cantadas em falsete, esse seria o primeiro dos 39 álbuns que o artista lançaria ao longo de sua carreira.

Reconhecido como um músico extremamente talentoso e de capacidades incomuns, ele passou a viver atrás dos portões de Paisley Park, onde foi encontrado, e mantinha certo mistério sobre sua vida pessoal, além de uma política de restrição total a aparelhos que pudessem gravar imagem ou áudio. Após certa fama, Prince passou a evitar entrevistas, e preferia deixar a sua música falar por si. Em 1984, ele passou a se referir a sua banda como The Revolution, e com essa nova denominação lançou o álbum Purple Rain, que serviria de trilha sonora para um filme homônimo no qual atuaria.

Purple Rain, um musical caleidoscópico que é parte autobiografia, parte fantasia, veio para quebrar um pouco do mistério que cerca o cantor. O filme levou o mundo do cinema a loucura da mesma forma que a música. O disco vendeu mais de 13 milhões de cópias apenas nos Estados Unidos, mantendo por 24 semanas consecutivas o primeiro lugar na lista da Billboard. Ao filme restou um Brit Awards de “Melhor Trilha Sonora”, um Grammy de “Melhor Álbum Instrumental para Filme”, um Image Awards para a atuação de Prince, e um Oscar de “Melhor Canção Original”, em 1985. Prince, que já não era desmerecido, passou então a ocupar oficialmente um lugar no pódio ao lado dos demais gigantes pop dos anos 80, como Michael Jackson e Madonna.

Com apenas 57 anos, o cantor já havia cancelado duas performances esse mês por não estar se sentindo bem, e ainda tinha outros shows marcados da turnê “Piano & a Microphone”. Seu último álbum, HITnRUN, foi lançado em setembro de 2015 pelo Tidal, serviço de assinatura para distribuição digital de música. Sua música que marcou gerações, e seus quase 40 anos de carreira fizeram dele um dos artistas mais influentes de todos os tempos. Seu falecimento repentino abalou fãs e comoveu celebridades ao redor do mundo. As causas de sua morte ainda estão sendo apuradas.

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A Carência da Moda Nacional

A Carência da Moda Nacional

Essa semana fui levada a refletir sobre a indústria de moda nacional, mas não de forma geral, o foco do pensamento foi voltado ao nicho Mignon e Plus Size com relação a variedade, preço e qualidade. Enquanto sua reação com o mundo da moda talvez possa ser expressada com satisfação pelas tendências que surgem, as que ressurgem, e surpresa pelas que sobrevivem por temporadas e mais temporadas sem perderem o apelo social, para mim, o buraco no que diz respeito a inclusão e representatividade é bem mais embaixo… É sério que já estamos em 2016 e tudo continua quase igual a 10, 15, 20 anos atrás para quem é pequeno ou magro demais, para quem é sobrepeso, para quem é alto, e para quem calça menos que 36 ou mais que 39? Brasil, queira melhorar…

De roupas à calçados, há uma carência sem precedentes no mundo fashion para pessoas que não se enquadram nos tamanhos considerados padrão. Para as mais magras e/ou baixinhas, conhecidas também como Mignon, ter que comprar roupas na seção infantil não é uma novidade, muitas só encontram opções ali. Para as mais gordinhas e/ou altas, não encontrar uma roupa que lhes sirva ou que não pareça ter sido feita com panos de chão melhorou um pouco nos últimos anos, mas ainda está longe de alcançar o resultado ideal. Mas especialmente, para quem calça menos que 36 e mais que 39 a vida pode se tornar consideravelmente mais amarga.

O interessante é que todos precisamos do algo para vestir e calçar. Cada situação social exige um decoro, não só no que diz respeito a comportamento, mas também a um tipo de código de vestimenta do que se adequaria a determinada ocasião. Além de enfrentar as dificuldades já citadas em encontrar algo que sirva, os poucos produtos que atendem a necessidade dessa parcela de pessoas excluídas das araras são extraordinariamente mais caros do que aqueles que se encontra de sobra no mercado. Quando não, o que reina é o acabamento porco e má qualidade dos materiais, resultando em mercadorias que podem ser consideradas descartáveis. Depois de usar poucas vezes, já não presta mais…

Usemos como exemplo uma mulher plus size… Além do sobrepeso, o que já dificulta bastante a satisfação do guarda roupas, a biologia de seu corpo resolveu que ela teria um pé tamanho 42… Em que loja de calçados ela pode encontrar sapatos que lhe sirvam? Numa busca rápida na internet encontrei 5 sites nacionais que comercializam sapatos com “numeração especial”, como são chamados. E essa é a opção desta mulher; Ter que escolher entre modelos limitados, comprar pela internet sem a certeza de que o sapato tem qualidade ou se irá calçar bem, lidar com a possibilidade de precisar trocar a mercadoria, lidar com as burocracias dos Correios (outro serviço porco do país) para essa troca, e claro, pagar uma fortuna por isso. Enquanto uma sapatilha de “numeração padrão” pode ser encontrada por R$50 em qualquer loja física perto da sua casa, uma com “numeração especial” começa a ser vendida à partir de R$90 na loja online mais barata.

Talvez você esteja pensando que são casos isolados, ou que não constituem uma quantidade significativa de pessoas a ponto de merecerem atenção da indústria, mas não é bem assim. Existe uma grande parcela da comunidade feminina cujo pé não parou de crescer quando chegou ao 39. Eu mesma, no meu limitado grupo de amigos conheço umas dez mulheres entre 18 e 60 anos que vem lidando com esse problema a vida inteira. O mesmo vale para quem calça menos de 36, as Plus Size e as Mignon, todas gostam de coisas bonitas a preços acessíveis e com qualidade, e nenhuma delas tem o privilégio de encontrar seu número de roupa ou sapato em qualquer loja de esquina.

O resultado da falta de opções no mercado mexe não apenas com o bolso, mas principalmente com o emocional. Com o desgosto constante de passar por uma vitrine, amar alguma coisa, e saber que ela não te serve, pois quem a desenhou e produziu não o fez para a massa, fez para um público com padrão limitado e que não corresponde nem de longe ao que constitui uma sociedade. Designers e estilistas, busquem sair um pouco do mundo no qual vocês escolheram viver e olhem para o mundo no qual todos vivem. Talvez esse relance os faça perceber a diversidade de gostos e tipos que vem sendo negligenciados por décadas.

É movida por um desejo profundo de fazer alguma diferença e estimular a melhora desse mercado que escrevi esse texto. A sociedade do consumo abraça também os grupos menos representados. As novas gerações vem com ainda mais diversidade pessoal, e com ainda mais desejo por coisas bonitas, novas, e as querem em quantidade. O consumismo massivo de bens e serviços disponíveis está sendo alimentado graças a toda essa tecnologia, a conexão constante com as marcas através das redes sociais, a variedade e a elevada produção dos mesmos. Para quem quer crescer nesse negócio, a prioridade deveria ser atrair novos públicos e saciá-los oferecendo aquilo que necessitam. Dar voz aos ignorados e atender a lei da Oferta e Procura desses nichos pode ser mais uma porta para o sucesso, e para isso, basta que ela seja aberta…

Ninguém faz melhor propaganda de uma marca ou produto do que aqueles que o consomem.

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Maldito Cliffhanger

Maldito Cliffhanger

No último domingo tivemos o encerramento da 6ª temporada de The Walking Dead, que terminou com um cliffhanger¹ agonizante… Serão mais de seis meses de espera, caso o lançamento da próxima temporada não seja adiado, para saber qual das lindas cabeças do elenco bateu um papo íntimo com Lucille, a arma preferida de Negan (Jeffrey Dean Morgan). Sabemos o que aconteceu, mas não com quem aconteceu… E por mais que tentemos adivinhar fazendo o uni-duni-tê junto com Negan na cena final, ele não segue uma ordem na hora de apontar o bastão, o que dificulta a dedução de quem foi vítima de sua psicopatia sadista.

A AMC já anunciou que não pretende encerrar The Walking Dead tão cedo… E o que pode trazer algum consolo para os fãs é a certeza de que vai haver uma continuidade e com ela virão (taquicardia e dores no peito) as respostas, mas muitas séries que terminaram temporadas com cliffhangers não tiveram a mesma sorte, e para quem gostava e assistia esses programas foi necessária muita conformidade para aceitar que as conclusões nunca viriam. Então decidimos listar três programas de drama, horror e mistério que foram queridinhos de audiência e acabaram cancelados, terminaram em clima de tensão e deixaram várias pontas soltas…

The Following (2013-2015)

A série estreou com uma proposta inovadora e muito bem executada; e se não valesse pelo enredo, valeria para ver o Kevin Bacon correndo com uma arma na mão. Acredite, é muito engraçado.

Na trama, o serial killer Joe Carroll (James Purefoy), conseguia, de dentro de uma prisão de segurança máxima, manter contato e fazer planos com seu grupo de seguidores. Por duas temporadas o programa trabalha com a dinâmica de cultos, que são muito comuns nos Estados Unidos, e a fixação de Joe pelo agente do FBI responsável por seu encarceramento, Ryan Hardy (Kevin Bacon)… Entretanto, a 3ª temporada vem com uma proposta diferente, que traz a tona o que podemos chamar de briga de cachorro grande. Em sua ideia inicial, a série mostra que nenhum assassino trabalha 100% sozinho. Embora tenham nascido com sociopatia/psicopatia, não nasceram sabendo matar. Eles possuíam o desejo, mas precisaram ser treinados e ensinados como matar com segurança. Assim sendo, alguns deles se conhecem, sabem se encontrar, funcionam como mentores para os mais jovens, e ajudam uns aos outros quando necessário… Tudo em nome de uma boa derramação de sangue e desde que não sejam expostos publicamente.

Em certo ponto, a caçada de Ryan pelos serial killers que vão surgindo começa a ameaçar a privacidade de alguns desses indivíduos, que decidem se unir para destruir, em nome da vingança ou da autopreservação, o agente do FBI e todos os seus entes queridos. E assim, poucos episódios antes do fim da 3ª temporada uma nova trama se apresenta, mostrando para Ryan e para o público que as pessoas contra as quais ele vem lutando não são apenas simples assassinos de periferia socialmente excluídos, mas que também há uma classe de poderosos protegidos por exorbitantes quantias de dinheiro e influência pública. A série termina nesse imenso cliffhanger, provavelmente o maior desde seu início e contando com a certeza de ter audiência para temporadas futuras, mas nem tudo saiu como planejado… O programa foi cancelado deixando os fãs enlouquecidos, movendo petições para conseguir pelo menos um encerramento apropriado.

Hannibal (2013-2015)

Talvez você esteja pensando que Hannibal teve um final, e portanto, não deveria estar incluída nessa lista, mas eu vou explicar o motivo de estar aqui… Embora tenha recebido um roteiro de finalização, não é difícil perceber que aquele encerramento foi totalmente forçado para não deixa a série em aberto. Houve uma correria dos autores para encaixar soluções (meia-boca) as tramas que vinham sendo apresentadas, e para dar uma resolução à situação de Will Graham (Hugh Dancy) e Dr. Lecter (Mads Mikkelsen) de forma que não houvesse brechas para os fãs aguardarem uma nova temporada.

O motivo disso é de conhecimento geral, o programa foi cancelado com justificativa de perda de audiência, a qual acredito que ninguém engoliu… O que parece ser mais provável é que ela tenha sido censurada e descontinuada pelo caráter visceral de sua proposta, e pela paixão do público pelo serial killer em questão… E a mesma lógica se aplicaria a The Following. Tudo indica está havendo um tipo de caça às bruxas, só que no caso, aos programas policiais nos quais os assassinos se tornam socialmente mais aclamados que os mocinhos.

Em parte, o fim de Hannibal foi bem considerado com os sentimentos dos fãs; Antes aquilo do que ficar para sempre sem saber o que poderia ter acontecido, mas para uma série desse nível, o final apresentado não foi nada satisfatório, especialmente por não soar de fato como uma conclusão, e sim como começo de uma relação mais honesta entre Will e o doutor canibal. Ainda que a última cena sugira um acontecimento irredutível, para quem gostava do show não é tão impossível imaginar uma continuação e um outro desfecho…

Angel (1999-2004)

Essa série, que surgiu como um spin-off² de Buffy³, fala sobre Angel (David Boreanaz), um dos vampiros mais terríveis da história que foi amaldiçoado e teve sua alma restaurada. Fadado a sofrer com o peso na consciência das atrocidades que cometeu antes de receber sua alma de volta, e sem poder experimentar um segundo sequer de felicidade sem arriscar perdê-la, Angel decide dedicar sua existência no combate contra o mal. É preciso dizer que nessa realidade nem todos os demônios são ruins, e com a ajuda de alguns amigos (demônios e humanos), ele se empenha em caçadas isoladas a seres verdadeiramente malignos, e a uma briga mais direcionada contra uma firma de advocacia que age na cidade de Los Angeles com financiamento direto do tinhoso.

Quando Angel finalmente consegue fazer o bem mais presente do que o mal, ele destrói o equilíbrio que deveria existir entre essas forças, o que o leva a acidentalmente desencadear um apocalipse. Assim se encerra a 5ª temporada da série e a série como um todo… Enquanto Buffy teve um final apropriado, Angel é cancelada no nascer desse apocalipse, com todo o seu grupo desfalcado e sem saber quem sobreviveu para continuar a seu lado na luta, e ainda que também tenha sua continuação em comic book, não é o mesmo que assistir ao desfecho de uma história dessas proporções com os atores em ação.

Vale dizer, para quem gosta de programas dessas natureza, que Buffy e Angel são consideradas predecessoras de Supernatural nessa classificação… Mais de dez atores do elenco das séries originais de Joss Whedon já fizeram participações especiais no programa dos irmãos Winchester, e há muito debate na internet sobre similaridades e crossovers⁴ entre as séries.

***

Se você tem problemas com falta de conclusão, especialmente durante o clímax de uma história, não aconselhamos que assista a nenhuma dessas séries… Talvez apenas Hannibal, que apesar dos pesares teve uma conclusão, ainda que não tenha sido a ideal… Mas se você, assim como eu, já tem anos de experiência com seus programas favoritos sendo cancelados durante o maldito cliffhanger, sem mais, nem menos, e já não se afeta tanto por não saber como tudo vai terminar, fica aí a dica de três ótimos programas com as quais se entreter enquanto você aguarda o fim do hiato dos shows que costuma acompanhar.

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¹ Cliffhanger: É um recurso de roteiro utilizado em ficção, que se caracteriza pela exposição do personagem (ou personagens) a uma situação limite, precária, tal como um dilema, suspense, confronto, ou uma revelação surpreendente.

² Spin-off:  é um programa ou qualquer obra narrativa derivada de uma ou mais obras já existentes. A diferença entre um spin-off e uma obra original é que ele se concentra, em particular, mais detalhadamente em apenas um aspecto, por exemplo, um tema especifico, personagem ou evento.

³ Buffy: foi uma série criada por Joss Whedon em 1997. A narrativa segue a vida de Buffy Summers (Sarah Michelle Gellar), a mais recente numa linha de jovens mulheres conhecidas como Caçadoras. As Caçadoras são escolhidas pelo destino para a batalha contra vampiros, demônios, e outras forças das trevas. Tal como anteriores Caçadoras, Buffy é auxiliada por um Conselho de Sentinelas, que orienta, ensina, e as conduz. Ela também conta com a ajuda de um círculo de amigos leais, que se torna conhecido como Scooby-Gang. Angel é introduzido logo nos primeiros episódios da série, e esconde sua condição de vampiro para se aproximar da Caçadora, por quem está apaixonado. Ao fim da 3ª temporada, Angel deixa a série para ganhar um programa só dele.

Crossover: é um evento fictício em que dois ou mais personagens, cenários ou acontecimentos sem qualquer relação anterior em produtos de mídia (filmes, quadrinhos, seriados, etc) que passam a interagir compartilhando o mesmo ambiente narrativo.

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Negan e o futuro de The Walking Dead

Negan e o futuro de The Walking Dead

AVISO
CONTÉM SPOILERS SOBRE O UNIVERSO DE TWD
SE NÃO QUISER SABER, NÃO LEIA!

Produzida pelo canal americano AMC e exibida pela Fox Brasil, The Walking Dead se tornou um dos programas favoritos do público desde o lançamento, em 2010. Seus personagens cativantes e a inteligência dos autores em terminar (quase todos) os episódios e obrigatoriamente todas as temporadas com cliffhangers¹ chocantes são bons exemplos de como manter o sucesso e a audiência crescentes. Falta apenas um episódio para a conclusão da sexta temporada, o que para fãs significa uma morte péssima, literalmente… Para quem está familiarizado com a série, todo season finale² é relativamente igual; Alguns personagens importantes morrem, enquanto outros são capturados por grupos rivais e permanecem desaparecidos… Só voltam a ser mencionados na temporada seguinte, o que nos leva a meses de ansiedade sem saber se aquele queridinho vai passar apenas alguns episódios desfalcado do grupo ou morrer.

Em meio a tantas dúvidas apenas uma coisa é certa, o objetivo dos roteiristas é brincar com os nossos sentimentos. E para provar isso podemos fazer uso de um personagem de peso nos quadrinhos que finalmente começou a ser introduzido na versão televisionada. O nome Negan vem sendo citado por meses. Embora gradativamente sua imagem tenha deixado de ser tão abstrata, até o season finale ele não foi propriamente apresentado. As representações que cercam esse indivíduo deixam claras, desde o começo, o caráter desse antagonista, que demonstra ser pior do que o finado Governador. Interpretado pelo ator Jeffrey Dean Morgan (Supernatural), Negan surge como charmoso e encantador, ainda que bastante agressivo… Diferentemente do Governador, que comandava um pequeno complexo de cidadãos majoritariamente despreparados, Negan é o chefe dos Salvadores, um grupo de homens violentos cuja moeda de troca é a chantagem, coerção, e por fim o assassinato de todos que não acatam as suas exigências.

No contexto do que já foi exibido da série, Negan também é apresentado como um tipo de organização. Em dado momento, alguns membros do grupo dos Salvadores são confrontados sobre a identidade de seu chefe. Quando questionados, eles atribuem a si mesmos esse título com “Nós somos Negan”, o que remete a um comportamento de cultuação. Só isso já seria suficiente para revelar o poder de controle e persuasão do personagem. Tudo que seus seguidores fazem demonstra ser em proveito dele e do que ele construiu. Que forma melhor de convencer alguém a morrer e matar por você do que torná-lo parte crucial daquilo que você criou? Em meio ao caos de uma realidade pós-apocalíptica, e a julgar também pelo nome atribuído àqueles que trabalham em seu benefício (Salvadores), é de se supor que a imagem de Negan seja abordada de forma religiosa, como alguém a ser seguido, temido e adorado.

Apesar de toda a tensão que cerca esse novo núcleo de antagonistas, o que torna curioso o desenrolar da sétima temporada é justamente o carisma do bandido em questão. O Governador tinha seu charme, mas Negan parece ser bem mais competente que ele no que diz respeito à conquista e controle. Com um senso de humor peculiar e paixão por bombas, sua arma preferida é Lucille, um taco de baseball enrolado com arame farpado. Embora mate de cara um dos preferidos do público na HQ, o que causa um grande impacto no grupo, a incerteza de que esse acontecimento seja trazido para a série tem sido um dos causadores de maior ansiedade entre os fãs, principalmente pela possibilidade de que essa morte seja rearranjada para outro personagem. Sim, estamos falando sobre Daryl, que sequer existe na história original e pode se tornar o alvo, tendo em vista que é um dos pilares da turma do Rick e pela predileção popular por ele já ter causado incômodo nos roteiristas.

Com os quadrinhos ainda sendo escritos, e para somar mais de imprecisão ao caminho que a série irá tomar, na leitura Rick declara guerra a seus adversários, e conta com a ajuda de Jesus, da comunidade Hilltop e do ainda não apresentado Rei Ezekiel, de uma comunidade chamada O Reino, o que novamente sugere o caráter religioso que vem tomando forma no programa. No arco do comic book lançado mais recentemente, Negan ainda é um personagem ativo e muito presente na vida de Rick. Ele tem um laço único com Carl… Não sabemos se esse relacionamento será explorado nem a maneira como isso vai se dar, mas sabemos que Negan é um tirano que veio para mudar o rumo de toda a história. Para completar, a mensagem que Morgan prega que toda vida é preciosa, vai afetar o inconsciente de Rick como vem sendo mostrado que afetou o de Carol, e as perdas que essa ideologia irá trazer para o grupo, só esperando para saber…

Creio que o desenrolar da próxima temporada seja vital para definir a renovação ou o cancelamento da versão televisionada dessa obra. Embora o alcance de The Walking Dead seja grande, a morte de determinados personagens tem pleno poder de provocar o desinteresse do público. Robert Kirkman que pense bem no que ele vai fazer…

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¹ Cliffhanger: É um recurso de roteiro utilizado em ficção, que se caracteriza pela exposição do personagem (ou personagens) a uma situação limite, precária, tal como um dilema, suspense, confronto, ou uma revelação surpreendente.

² Season Finale: Significa “final de temporada” e se refere ao último episódio de uma temporada quando ainda há outra posterior. Caso seja o episódio final do programa como um todo, o termo correto seria Series Finale.

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Literatura e Cinema: Histórias Perturbadoras

Literatura e Cinema: Histórias Perturbadoras

Na nossa cultura, histórias de terror fazem sucesso. Seja no cinema, na literatura, televisão ou nos vídeo-games, há um grande apelo por entretenimento que se enquadre nesse segmento. De caráter puramente ficcional, com criaturas imaginárias e realidades alternativas, falando de pessoas comuns com problemas mentais sérios ou baseadas em fatos reais, as histórias de terror em suas vastas formas de manifestação tem público cativo e crescente. Então, paramos para pensar nos motivos para que esse tipo de narrativa faça tanto sucesso, e nossa resposta também pode ser um tanto quanto perturbadora…

Qualquer manifestação assustadora ou condenável remete a sentimentos muitos íntimos. Tais sentimentos muitas vezes sequer são pronunciados por seu grau de horror ou pelo tabu que os cercam. Histórias de terror normalmente causam desconforto, e nós (humanos) costumamos responder à imposição de tudo que nos agita, principalmente àquilo que nos agita de forma negativa; Coração disparado, tensão, medo, susto, enjoo, repulsa e raiva costumam ser as reações mais comuns a esse tipo de narrativa. E por que buscamos distração em algo que cutuca os piores sentimentos que poderíamos ter? Porque relatos dessa natureza costumam ser bem desenvolvidos, e aquilo que negamos, mas existe, também precisa ser saciado…

Não, não estamos dizendo que você é um maluco que quer matar adolescentes com uma serra elétrica na próxima sexta feira 13 (ou talvez queira, sei lá), mas em geral você, eu, e pessoas que não sofrem com doenças mentais graves precisam exercitar seus sentimentos, todos eles, inclusive aqueles ruins que tentamos não alimentar no dia a dia, e podem sair de controle quando provocados por qualquer ocasionalidade do mundo real. A temática do horror promove esse exercício com certa segurança, mexe com a adrenalina, nos faz presenciar situações com as quais provavelmente jamais teremos que lidar. Talvez ela transmita a ideia de que o mal (quase) sempre vence, mas o mundo em que vivemos não é um filme da Disney

Claro, muitas dessas histórias são puramente ficcionais, ou tocam em perversões pessoais que não afligem a maior parcela da sociedade, mas muitas refletem preocupações sociais reais; Sequestro, estupro, assassinato, psicopatia, a morte e o medo de morrer, etc. Com esse tipo de entretenimento acabamos atentando para esses temas, e aprendemos outras coisas também, tipo não andar pela floresta sozinho, não dar as costas para estranhos em ambientes desconhecidos, deitar no chão ao ouvir tiros, destruir o cérebro para matar os zumbis, e que separar o grupo para procurar uma saída ou solução significa que você provavelmente vai morrer, não faça isso…

Para completar essa ilustração do quanto histórias que causam incômodo agradam ao público, fizemos uma pequena lista com 6 livros perturbadores que ganharam destaque e versões cinematográficas:

  • Os 120 dias de Sodoma

Essa obra do Marquês de Sade trata de desejo, orgia e todo tipo de perversão e transgressão moral que possa existir. Não é a toa que o termo sadismo foi criado a partir do Sade desse infame Marquês. Em sua história, o sexo rapidamente se torna extremamente sádico. Humilhação, dor e morte eventualmente se perpetuam na narrativa. Basicamente todos os fetiches sexuais bizarros e degradantes são explorados em detalhes no livro. Ele foi escrito em 1785, e ganhou sua versão cinematográfica em 1975. Intitulado “Salò” e dirigido pelo italiano Pier Paolo Pasolini, o filme é amplamente considerado como um dos mais desagradáveis e perturbadores de todos os tempos.

  • A Estrada

Se tivesse que resumir o título de Cormac McCarthy em uma palavra seria definitivamente sombrio. Essa obra trata de um pai e seu filho pequeno tentando sobreviver após um evento cataclísmico deixar o mundo estéril e cinza. A dupla viaja através desse universo pós-apocalíptico com a esperança do pai de que tudo irá melhorar à medida que se aproximem do Sul dos Estados Unidos. Independentemente de suas esperanças, as plantas não crescem, o cenário não muda, a comida é escassa e há canibais por toda parte… A angústia e a sensação de ter sido repetidamente atingido no estômago duram por toda a leitura. Adaptado em 2009 para o cinema, o filme homônimo conta com a atuação de Viggo Mortensen no papel do pai e não ameniza os sentimentos gerados pelo livro, tendo um desenrolar proporcionalmente desagradável.

  • Ensaio Sobre a Cegueira

Esse livro, de José Saramago, trabalha um cenário verdadeiramente horrível: Um vírus facilmente transmissível causa a perda da visão em basicamente todos no mundo em um curto período de tempo, e embora trate-se de uma obra de ficção, isso não diminui o impacto causado em quem lê. A história segue um grupo de personagens que estão entre os primeiros diagnosticados e que são enviados para quarentena, e fala bastante sobre a rapidez com que a sociedade entra em colapso diante da propagação dessa doença. Muito já foi dito sobre o livro ser, na verdade, uma alegoria sobre cegueira espiritual, mas se o encararmos literalmente, ele é bem mais assustador. Adaptado para o cinema em 2008 e dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, o filme conta com um elenco de peso e expressa com fidelidade visceral o desespero silencioso de uma cegueira repentina.

  • Precisamos Falar Sobre Kevin

Escrito por Lionel Shriver, esse trabalho diz respeito a um massacre fictício numa escola contado através da perspectiva da mãe do causador do terror, Kevin. Na obra, a mãe escreve cartas para seu ex-marido tentando entender o monstro que colocou que no mundo. O livro fala em detalhes sobre o comportamento de Kevin, que exibia sinais de psicose desde jovem, até o momento em que provoca a morte de sete colegas, um funcionário da lanchonete, e um professor de álgebra. A mãe culpa parcialmente a si mesma, acredita que por nunca ter sido uma entusiasta da maternidade, ficou fadada a criar de um indivíduo profundamente perturbado. Essa história, obscura e muito bem escrita, chegou aos cinemas em 2011 e não economizou em crueldade e terror psicológico.

  • Psicopata Americano

Esse livro faz com que você realmente questione a sanidade do autor, Bret Easton Ellis. Muitas pessoas provavelmente estão familiarizadas com a versão cinematográfica de 2000 estrelada por Christian Bale, mas o filme empalidece em comparação ao livro quando se trata de níveis de insanidade depravada. A história nos apresenta a Patrick Bateman ao longo de alguns anos de sua vida, um abastado engravatado de Wall Street que por nenhum acaso também desempenha a função de Serial Killer. Tudo se desenvolve através de seus assassinatos, que se tornam gradativamente mais sádicos, levando a algumas cenas que podem nunca sair completamente da sua mente. Dá para garantir que você vá se sentir (no mínimo) um pouco sujo após ler esse livro.

  • Réquiem Para um Sonho

Campanhas antidrogas deveriam parar de utilizar comerciais tradicionais aos quais ninguém presta atenção e começar a utilizar esse livro de Hubert Selby Jr. como leitura obrigatória nas escolas. As pessoas ainda usariam drogas, mas creio que pensariam duas vezes após lê-lo. É possível que grande parte do público esteja mais familiarizado com o filme lançado em 2000, estrelado pelo também cantor Jared Leto (30 Seconds to Mars) e sequer tenha noção da existência do livro… O filme, que trata com bastante fidelidade a narrativa original, traz a história de quatro personagens… Todos vêem as suas vidas arruinadas por diversos vícios e no fim das contas o personagem principal acaba não sendo nenhum deles, mas o vício em si, o que torna a obra um passeio profundamente deprimente, especialmente pelo seu toque de triste realidade.

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Certamente existem obras mais substanciais a nível de subversividade e loucura a disposição para quem queira ler, mas esses foram os exemplos de sucesso e amplo alcance que escolhemos para falar hoje. Entretanto, recomendamos que para a distração exista um controle do quão mal você deve se sentir… Nós gostamos de mistérios, assassinatos e histórias policiais, mas não incentivamos que você se atrofie apenas nesse tipo de segmento para se entreter. Explore os outros estilos, e nunca se force a assistir ou ler nada que ultrapasse seus limites e mexa demais com seu subconsciente. É importante saber respeitar a si mesmo… Mesmo porque, não há como curtir nada quando se está passando mal de verdade.

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Quem tem Tinder, tem medo.

Quem tem Tinder, tem medo.

Pergunte a qualquer um que tenha uma conta no aplicativo: é comum sentir receio ao criar um perfil com a sua foto, muitas vezes linkado ao Facebook, e não imaginar quem vai passar pela sua página nesse cardápio humano; Uma pessoa com a qual você cortou relações, um(a) ex qualquer coisa, amigos do(a) ex qualquer coisa, uma pessoa para a qual você se declarou morta, mas que você sabe que te stalkeia, e incontáveis outras desequilibradas e com caráter duvidoso. Dependendo também de como a sua mente funciona, fica impossível não começar a imaginar alguém que você detesta dando match em outro alguém que te fez muito mal, e prontamente visualizar a cena dessas duas pessoas terríveis sendo felizes juntas…

Poucas coisas no mundo são tão ruins quanto ver gente que não presta se refastelando na vida, e uma delas pode ser a experiência de tentar formar um vínculo com alguém 100% estranho estando atrás de um aparelho eletrônico. Sou muito liberal com algumas coisas, mas o Tinder traz a tona o conservadorismo que há em mim. Constatei que não gosto da dinâmica do serviço e do comportamento geral por lá. O aplicativo fornece seu nome e idade, local de trabalho e estudo, espaço para 6 ou 7 fotos e 500 caracteres caso você deseje colocar alguma descrição. São inúmeras as formas para julgar alguém num ambiente desses. Embora o que esteja exposto para primeiro impacto seja bastante restrito, tais informações acabam sendo marcantes pra alguém que, como eu, usa repelente a base de ceticismo quando tem que lidar com o desconhecido.

Depois de determinada idade, que varia de pessoa para pessoa, ficamos cheios de manias… Não da mais para aturar certas coisas, nem se misturar com todo tipo de gente. Passamos a utilizar filtros cuja exigência cresce de acordo com nosso amadurecimento, objetivos, decepções e gostos pessoais. Não é mais tão simples querer fazer parte da vida de alguém e deixar que esse alguém faça parte da sua também. Existem requisitos a serem preenchidos… A primeira impressão sempre vem pela foto de capa. Ali já da para saber se vale a pena ou não abrir o perfil para ver um pouco mais. Passo direto por gente na praia, cachoeira, no futebol, fazendo trilha, esportes radicais e naquelas muvucas sociais. Não tenho nada em comum com alguém que tem essas atividades como prazeres primários…

Passada essa fase da triagem, chegamos ao “sobre”, e aí o que pode parecer puro preconceito reflete, na verdade, um senso de autopreservação muito grande. Se tem WhatsApp publicado e/ou está pedindo seguidores no Snapchat/Instagram? Passo. Expressa apoio/uso de drogas, dependência alcoólica e/ou fanatismos? Passo. Erros de português, concordância, falta de coerência e frases obsoletas tipo: Foco, força e fé – Deus no comando sempre – Vem que no caminho eu te explico? Passo! Eu me conheço bem, não quero contato com quem que se expõe tanto, com alguém que da tanto valor aos likes e follows da vida online, com vícios que desaprovo, com déficits difíceis para um jornalista engolir, e alguém incapaz de se expressar com as próprias palavras em menos de 500 caracteres.

Se uma amizade assim eventualmente surgir será naturalmente, por contato direto, nunca por uma busca online, e o que faz diferença nesse caso é justamente a questão de se tratar de uma busca. É muito diferente entrar na vida de alguém por ação do destino e procurar fazer parte da vida de alguém através de um meio digital. Na internet, a avaliação se torna mais criteriosa pois ela grita que, se tudo der errado para você, a culpa é sua. Se foi algo que você mesmo procurou, e além de procurar, permitiu, você só tem a si mesmo para responsabilizar por qualquer cilada na qual venha a se meter. É provável que você justifique seu sofrimento com a transgressão alheia e sinta pena de si mesmo por ter sido sacaneado, mas não é nada fácil admitir que talvez você esteja passando por algo desagradável por ter sido permissivo e inconsequente.

Para evitar tudo isso eu antecipo possibilidades, não faço nada tomando por garantia a certeza. Meses atrás uma amiga me convenceu a abrir uma conta no Tinder. Ela contava regularmente histórias divertidas com pessoas legais que encontrou através do app. Lá pelo vigésimo sétimo relato de pessoa incrível, resolvi arriscar. Essa experiência serviu mais como autoavaliação crítica e estudo antropológico, do que realmente uma forma de conhecer gente interessante, embora eu tenha conhecido uma ou duas. Me vi diante de desafios morais ao utilizar o aplicativo, especialmente quando meu superpoder de Overthink¹ entrava em ação. Se eu começasse a conversar com alguém que diz que não se diverte sem bebida, meu superpoder era acionado… Ele me colocava num Flashforward² e me fazia visualizar um futuro que ainda era apenas uma possibilidade.

Nesse futuro imaginário nós éramos amigos, e essa pessoa que não se divertia sem bebida há muito já se tornara um alcoólatra. Ao voltar para o presente, instantaneamente surgiam as perguntas: Vale a pena? Vale a pena abrir minha vida para essa pessoa, que já se mostra bastante problemática, me importar com ela, para mais tarde ter que lidar com isso? Vale a pena arriscar perder uma amizade caso a pessoa não admita que precisa se tratar? Vale arriscar me tornar vítima de qualquer insanidade temporária causada pela mistura perigosa do meu amigo? E após pensar em muitas mais perguntas como essas, o meu interesse pela pessoa e em ter qualquer tipo de envolvimento com ela caíam por terra.

Todos temos bagagem. Todos temos qualidades, defeitos e vícios; Fantasmas e coisas mal resolvidas, mas algumas são mais graves e pesadas que outras, e tem coisas com as quais não vale a pena lidar. É horrível pensar em deixar alguém de lado por sua bagagem, mas quando você admite que existe uma possibilidade de futuro, por menor que seja, você precisa considerar que, como amigo ou como algo mais, os problemas dela (dependendo de quais forem) podem te afetar, e você já tem problemas suficientes com os quais lidar. Qualquer relacionamento exige troca, apoio… É praticamente impossível não se envolver nos dilemas de alguém por quem você tem grande estima, e eu costumo ter bastante pelos meus.

É natural do ser humano ter medo de não ser amado, medo de ficar sozinho. Acredito que ninguém que inicia a formação de um vínculo imagina o seu fim, sexo casual e contatos profissionais não se enquadrariam nesse contexto de vínculo. Acredito que ninguém idealiza uma amizade problemática, com prazo de validade… Ninguém quer amigos para curtir sexta feira a noite e com os quais não se pode contar para nada além disso, nem deseja se apegar a alguém e depois ver essa pessoa ir embora, por qualquer que seja o motivo… A ideia que as relações passam é que serão sólidas e eternas, mas conforme essa inocência é perdida, elas se mostram frágeis. Isso também é natural do ser humano, e já que as coisas acontecem assim, seja no Tinder, na vida real ou virtual, não custa nada ter prudência antes de deixar alguém entrar no seu mundo.

Não sei vocês, mas eu prefiro não ter que me despedir de ninguém.
E se quem tem Tinder não tem medo, acho que deveria começar a ter…

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¹ Overthink: ato de pensar demais.

² Flashforward: é a interrupção de uma sequência cronológica narrativa, uma forma de apresentar um momento futuro.

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Precisamos falar sobre o Oscar

Precisamos falar sobre o Oscar

Nas últimas semanas, muito barulho foi feito a respeito desse evento. Foi levantada a questão do “Oscar Branco”, por não ter havido indicação de nenhum ator negro a nenhuma das 24 categorias. Houve boicote por parte de artistas que preferiram não comparecer a festa que negligencia, em pleno século XXI, atuações primorosas e favorece sempre os tons mais claros do pantone humano. Durante a premiação (difícil de assistir), as constantes piadas de Chris Rock como anfitrião da noite insistiam em bater na tecla da questão racial, que acabou marcando a premiação por completo, tornando o clima a certo ponto desagradável para quem estava lá. Enquanto alguns forçavam o riso quando diante do foco da câmera, outros não disfarçavam o desprazer de estarem ali ouvindo aquilo. E como se não fosse suficiente, um ponto de virada surgiu com a aparição da presidente da Academia, que, por ser mulher e negra, só serviu para adicionar mais munição para aqueles que defendem a ideia de que não existe sexismo e discriminação racial em Hollywood.

Apesar de toda essa controvérsia, e provavelmente devido à ela, o Oscar de 2016 entrou para a história. Somando-se a todo esse burburinho o evento também ficou marcado como o ano em que Leonardo DiCaprio finalmente ganhou sua primeira estatueta na categoria de Melhor Ator, oficializando, de uma vez por todas, a morte de um meme cuja expectativa de vida ultrapassou a da maioria dos demais fenômenos da internet. Leonardo DiCaprio tem o seu Oscar e agora tudo o que podemos fazer é seguir em frente com nossas vidas. Ainda que ele necessitasse dessa vitória, acredito que Leo já interpretou papéis melhores e já foi mais digno da estatueta em outros anos, mas, de qualquer forma, há todo um mérito por não ter sido um prêmio de consolação, póstumo ou honorário. E ele merecia isso…

Ainda assim, fiquei um tempo considerando o que na minha opinião teria sido uma escolha mais justa, não só para essa categoria, mas para todas as demais. Prefiro nem entrar em detalhes sobre a questão Lady Gaga x Sam Smith… Enfim, não demorei a pensar nas premiações anteriores. Então decidi olhar alguns clássicos que considero excelentes e sua repercussão no Oscar de seus respectivos anos e descobri que, assim como “A Garota Dinamarquesa”, que não foi devidamente premiado, e “Carol”, que sequer foi indicado como Melhor Filme, muitos deles também não tiveram destaque em sua época.

5 produções que nunca foram indicadas como Melhor Filme pela Academia:

  • Cantando na Chuva (1951)

O Oscar ama musicais, cinco ganharam entre 1958 e 1968. E também ama filmes que falem sobre Hollywood. Recentemente tivemos “O Artista” e “Argo” desempenhando esse papel. Então por que “Cantando na Chuva”, um dos melhores filmes musicais já feitos e um dos melhores que falam sobre Hollywood só teve duas indicações? Talvez por ser considerado um musical jukebox, ou talvez tenha sido a inclinação cômica do roteiro – e brilhante como é, graças a performances impecáveis. De qualquer forma, o filme é desconcertante, tanto visualmente falando, como musicalmente. Ele narra a luta dos atores para se acostumarem ao cinema com falas e músicas, representando a importância da transição do cinema mudo para o falado em Hollywood e como isso afetou a vida de quem trabalhava na indústria. Mas, aparentemente aquele não era um bom ano para um Melhor Filme vintage levar a estatueta…

  • Um Corpo que Cai (1958)

Quão surpreso você está pelo distorcido psicodrama de Hitchcock não ter sido nomeado para Melhor Filme depende do quão familiarizado você está com a história da reputação do filme. Embora totalmente reabilitado agora, “Um Corpo que Cai” foi um fracasso comercial e de crítica quando lançado, mal conseguiu recuperar os gastos da produção e foi recebido de braços cruzados pelos críticos contemporâneos. O que só prova que as pessoas de antigamente eram loucas! Essa sublime história de perversão e obsessão começa quando um detetive aposentado que sofre de agorafobia¹ perde misteriosamente a mulher que ama. “Um Corpo que Cai” não tem a perfeição e precisão narrativa formal de muitos dos outros filmes de Hitchcock, e sua grandeza consiste justamente na confusão. O que reforça a dificuldade da Academia em aceitar as diferentes leituras e criações dependendo da época.

  • 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968)

Ainda não tivemos uma produção de ficção científica ganhando como Melhor Filme, e “Perdido em Marte” e “Mad Max” não mudaram o panorama esse ano. Talvez a omissão mais chocante do gênero tenha sido o longa de Stanley Kubrick, “2001”, pois não apenas perdeu o prêmio, sequer foi nomeado. O épico, baseado numa parceria entre Kubrick e Arthur C. Clarke, veio com efeitos inovadores e mudou o gênero para sempre, reafirmando, mais do que nunca, o status visionário de Kubrick. O diretor foi elogiado pela Academia — ele ganhou o Oscar de Melhores Efeitos Especiais, e foi nomeado para Melhor Direção de Arte, Melhor Direção e Roteiro Original, mas o filme em si ficou esquecido. Mesmo considerando seu impacto cinematográfico atual, é desconcertante que tenha sido ignorado quando o comparamos aos filmes que foram indicados naquele ano.

  • Manhattan (1979)

É interessante a forma com que “Manhattan” foi bem filmado. Recheado de piadas inteligentes sobre filosofia, religião, status social, ele transforma a cidade de Nova York num palco para a abordagem dos relacionamentos humanos pela ótica sofisticada e estilizada de Woody Allen. Todo em preto e branco, e com apenas músicas de George Gershwin na trilha sonora, esse filme pode ser encarado como a obra mais radical do diretor. A partir daí foi colocado em marcha um padrão que tem se repetido desde então… Após o sucesso com “Annie Hall”, que ganhou Melhor Filme, Direção e Roteiro, os filmes de Allen ganharam mais destaque, mas, apesar disso, apenas duas de suas inúmeras obras foram nomeadas a Melhor Filme. Isso prova que mesmo com uma carreira excepcionalmente bem sucedida, não é tão fácil ser colocado entre os melhores da Academia. Embora “Apocalypse Now”, “Norma Rae” e “O Show deve Continuar” estivessem disputando a categoria, quem levou a estatueta por Melhor Filme foi “Kramer vs Kramer”, uma escolha um tanto controversa…

  • Thelma & Louise (1991)

Quando um filme que recebe seis indicações nas principais categorias não consegue uma indicação de Melhor Filme, algo parece errado. Com Hans Zimmer na trilha sonora, e com a primeira indicação de Ridley Scott (Melhor Direção) por essa fantástica história de amizade, feminismo e empoderamento, era de se esperar pelo menos uma nomeação. Mas, obviamente, a disputa estava muito forte naquele ano, certo? Bem, nem tanto… Vamos admitir que “O Silêncio dos Inocentes” foi um vencedor muito digno, e “A Bela e a Fera” uma agradável surpresa como o primeiro filme de animação a ser indicado nessa categoria, mas para a época, “Thelma & Louise” foi uma produção verdadeiramente importante, e mais uma vez nos deparamos com a miopia da Academia quando se trata de valorizar produções históricas e socialmente relevantes.

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Esses são apenas cinco exemplos numa história de 88 premiações e incontáveis produções cinematográficas esquecidas pelos críticos da Academia, porém, aclamados pelo público. Existem erros e acertos, padrões e exigências a serem avaliados e cumpridos, mas a impressão que alguns resultados transmitem é que tudo não passa de uma escolha pessoal, genuína ou vendida, mas que não atribui às categorias o real sentido do Melhor em qualquer coisa. De qualquer forma, ano que vem estamos aí de novo, acordados além do aceitável numa madrugada de dia útil, engolindo propagandas de quase 10 minutos e comentários que tem ainda menos a ver com a premiação do que a escolha dos críticos, só para acompanhar o desempenho dos nossos preferidos na disputa…

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¹ Agorafobia: é um transtorno de ansiedade que muitas vezes referido como: medo incontrolável de espaços abertos.

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