Negan e o futuro de The Walking Dead

Negan e o futuro de The Walking Dead

AVISO
CONTÉM SPOILERS SOBRE O UNIVERSO DE TWD
SE NÃO QUISER SABER, NÃO LEIA!

Produzida pelo canal americano AMC e exibida pela Fox Brasil, The Walking Dead se tornou um dos programas favoritos do público desde o lançamento, em 2010. Seus personagens cativantes e a inteligência dos autores em terminar (quase todos) os episódios e obrigatoriamente todas as temporadas com cliffhangers¹ chocantes são bons exemplos de como manter o sucesso e a audiência crescentes. Falta apenas um episódio para a conclusão da sexta temporada, o que para fãs significa uma morte péssima, literalmente… Para quem está familiarizado com a série, todo season finale² é relativamente igual; Alguns personagens importantes morrem, enquanto outros são capturados por grupos rivais e permanecem desaparecidos… Só voltam a ser mencionados na temporada seguinte, o que nos leva a meses de ansiedade sem saber se aquele queridinho vai passar apenas alguns episódios desfalcado do grupo ou morrer.

Em meio a tantas dúvidas apenas uma coisa é certa, o objetivo dos roteiristas é brincar com os nossos sentimentos. E para provar isso podemos fazer uso de um personagem de peso nos quadrinhos que finalmente começou a ser introduzido na versão televisionada. O nome Negan vem sendo citado por meses. Embora gradativamente sua imagem tenha deixado de ser tão abstrata, até o season finale ele não foi propriamente apresentado. As representações que cercam esse indivíduo deixam claras, desde o começo, o caráter desse antagonista, que demonstra ser pior do que o finado Governador. Interpretado pelo ator Jeffrey Dean Morgan (Supernatural), Negan surge como charmoso e encantador, ainda que bastante agressivo… Diferentemente do Governador, que comandava um pequeno complexo de cidadãos majoritariamente despreparados, Negan é o chefe dos Salvadores, um grupo de homens violentos cuja moeda de troca é a chantagem, coerção, e por fim o assassinato de todos que não acatam as suas exigências.

No contexto do que já foi exibido da série, Negan também é apresentado como um tipo de organização. Em dado momento, alguns membros do grupo dos Salvadores são confrontados sobre a identidade de seu chefe. Quando questionados, eles atribuem a si mesmos esse título com “Nós somos Negan”, o que remete a um comportamento de cultuação. Só isso já seria suficiente para revelar o poder de controle e persuasão do personagem. Tudo que seus seguidores fazem demonstra ser em proveito dele e do que ele construiu. Que forma melhor de convencer alguém a morrer e matar por você do que torná-lo parte crucial daquilo que você criou? Em meio ao caos de uma realidade pós-apocalíptica, e a julgar também pelo nome atribuído àqueles que trabalham em seu benefício (Salvadores), é de se supor que a imagem de Negan seja abordada de forma religiosa, como alguém a ser seguido, temido e adorado.

Apesar de toda a tensão que cerca esse novo núcleo de antagonistas, o que torna curioso o desenrolar da sétima temporada é justamente o carisma do bandido em questão. O Governador tinha seu charme, mas Negan parece ser bem mais competente que ele no que diz respeito à conquista e controle. Com um senso de humor peculiar e paixão por bombas, sua arma preferida é Lucille, um taco de baseball enrolado com arame farpado. Embora mate de cara um dos preferidos do público na HQ, o que causa um grande impacto no grupo, a incerteza de que esse acontecimento seja trazido para a série tem sido um dos causadores de maior ansiedade entre os fãs, principalmente pela possibilidade de que essa morte seja rearranjada para outro personagem. Sim, estamos falando sobre Daryl, que sequer existe na história original e pode se tornar o alvo, tendo em vista que é um dos pilares da turma do Rick e pela predileção popular por ele já ter causado incômodo nos roteiristas.

Com os quadrinhos ainda sendo escritos, e para somar mais de imprecisão ao caminho que a série irá tomar, na leitura Rick declara guerra a seus adversários, e conta com a ajuda de Jesus, da comunidade Hilltop e do ainda não apresentado Rei Ezekiel, de uma comunidade chamada O Reino, o que novamente sugere o caráter religioso que vem tomando forma no programa. No arco do comic book lançado mais recentemente, Negan ainda é um personagem ativo e muito presente na vida de Rick. Ele tem um laço único com Carl… Não sabemos se esse relacionamento será explorado nem a maneira como isso vai se dar, mas sabemos que Negan é um tirano que veio para mudar o rumo de toda a história. Para completar, a mensagem que Morgan prega que toda vida é preciosa, vai afetar o inconsciente de Rick como vem sendo mostrado que afetou o de Carol, e as perdas que essa ideologia irá trazer para o grupo, só esperando para saber…

Creio que o desenrolar da próxima temporada seja vital para definir a renovação ou o cancelamento da versão televisionada dessa obra. Embora o alcance de The Walking Dead seja grande, a morte de determinados personagens tem pleno poder de provocar o desinteresse do público. Robert Kirkman que pense bem no que ele vai fazer…

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¹ Cliffhanger: É um recurso de roteiro utilizado em ficção, que se caracteriza pela exposição do personagem (ou personagens) a uma situação limite, precária, tal como um dilema, suspense, confronto, ou uma revelação surpreendente.

² Season Finale: Significa “final de temporada” e se refere ao último episódio de uma temporada quando ainda há outra posterior. Caso seja o episódio final do programa como um todo, o termo correto seria Series Finale.

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Literatura e Cinema: Histórias Perturbadoras

Literatura e Cinema: Histórias Perturbadoras

Na nossa cultura, histórias de terror fazem sucesso. Seja no cinema, na literatura, televisão ou nos vídeo-games, há um grande apelo por entretenimento que se enquadre nesse segmento. De caráter puramente ficcional, com criaturas imaginárias e realidades alternativas, falando de pessoas comuns com problemas mentais sérios ou baseadas em fatos reais, as histórias de terror em suas vastas formas de manifestação tem público cativo e crescente. Então, paramos para pensar nos motivos para que esse tipo de narrativa faça tanto sucesso, e nossa resposta também pode ser um tanto quanto perturbadora…

Qualquer manifestação assustadora ou condenável remete a sentimentos muitos íntimos. Tais sentimentos muitas vezes sequer são pronunciados por seu grau de horror ou pelo tabu que os cercam. Histórias de terror normalmente causam desconforto, e nós (humanos) costumamos responder à imposição de tudo que nos agita, principalmente àquilo que nos agita de forma negativa; Coração disparado, tensão, medo, susto, enjoo, repulsa e raiva costumam ser as reações mais comuns a esse tipo de narrativa. E por que buscamos distração em algo que cutuca os piores sentimentos que poderíamos ter? Porque relatos dessa natureza costumam ser bem desenvolvidos, e aquilo que negamos, mas existe, também precisa ser saciado…

Não, não estamos dizendo que você é um maluco que quer matar adolescentes com uma serra elétrica na próxima sexta feira 13 (ou talvez queira, sei lá), mas em geral você, eu, e pessoas que não sofrem com doenças mentais graves precisam exercitar seus sentimentos, todos eles, inclusive aqueles ruins que tentamos não alimentar no dia a dia, e podem sair de controle quando provocados por qualquer ocasionalidade do mundo real. A temática do horror promove esse exercício com certa segurança, mexe com a adrenalina, nos faz presenciar situações com as quais provavelmente jamais teremos que lidar. Talvez ela transmita a ideia de que o mal (quase) sempre vence, mas o mundo em que vivemos não é um filme da Disney

Claro, muitas dessas histórias são puramente ficcionais, ou tocam em perversões pessoais que não afligem a maior parcela da sociedade, mas muitas refletem preocupações sociais reais; Sequestro, estupro, assassinato, psicopatia, a morte e o medo de morrer, etc. Com esse tipo de entretenimento acabamos atentando para esses temas, e aprendemos outras coisas também, tipo não andar pela floresta sozinho, não dar as costas para estranhos em ambientes desconhecidos, deitar no chão ao ouvir tiros, destruir o cérebro para matar os zumbis, e que separar o grupo para procurar uma saída ou solução significa que você provavelmente vai morrer, não faça isso…

Para completar essa ilustração do quanto histórias que causam incômodo agradam ao público, fizemos uma pequena lista com 6 livros perturbadores que ganharam destaque e versões cinematográficas:

  • Os 120 dias de Sodoma

Essa obra do Marquês de Sade trata de desejo, orgia e todo tipo de perversão e transgressão moral que possa existir. Não é a toa que o termo sadismo foi criado a partir do Sade desse infame Marquês. Em sua história, o sexo rapidamente se torna extremamente sádico. Humilhação, dor e morte eventualmente se perpetuam na narrativa. Basicamente todos os fetiches sexuais bizarros e degradantes são explorados em detalhes no livro. Ele foi escrito em 1785, e ganhou sua versão cinematográfica em 1975. Intitulado “Salò” e dirigido pelo italiano Pier Paolo Pasolini, o filme é amplamente considerado como um dos mais desagradáveis e perturbadores de todos os tempos.

  • A Estrada

Se tivesse que resumir o título de Cormac McCarthy em uma palavra seria definitivamente sombrio. Essa obra trata de um pai e seu filho pequeno tentando sobreviver após um evento cataclísmico deixar o mundo estéril e cinza. A dupla viaja através desse universo pós-apocalíptico com a esperança do pai de que tudo irá melhorar à medida que se aproximem do Sul dos Estados Unidos. Independentemente de suas esperanças, as plantas não crescem, o cenário não muda, a comida é escassa e há canibais por toda parte… A angústia e a sensação de ter sido repetidamente atingido no estômago duram por toda a leitura. Adaptado em 2009 para o cinema, o filme homônimo conta com a atuação de Viggo Mortensen no papel do pai e não ameniza os sentimentos gerados pelo livro, tendo um desenrolar proporcionalmente desagradável.

  • Ensaio Sobre a Cegueira

Esse livro, de José Saramago, trabalha um cenário verdadeiramente horrível: Um vírus facilmente transmissível causa a perda da visão em basicamente todos no mundo em um curto período de tempo, e embora trate-se de uma obra de ficção, isso não diminui o impacto causado em quem lê. A história segue um grupo de personagens que estão entre os primeiros diagnosticados e que são enviados para quarentena, e fala bastante sobre a rapidez com que a sociedade entra em colapso diante da propagação dessa doença. Muito já foi dito sobre o livro ser, na verdade, uma alegoria sobre cegueira espiritual, mas se o encararmos literalmente, ele é bem mais assustador. Adaptado para o cinema em 2008 e dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, o filme conta com um elenco de peso e expressa com fidelidade visceral o desespero silencioso de uma cegueira repentina.

  • Precisamos Falar Sobre Kevin

Escrito por Lionel Shriver, esse trabalho diz respeito a um massacre fictício numa escola contado através da perspectiva da mãe do causador do terror, Kevin. Na obra, a mãe escreve cartas para seu ex-marido tentando entender o monstro que colocou que no mundo. O livro fala em detalhes sobre o comportamento de Kevin, que exibia sinais de psicose desde jovem, até o momento em que provoca a morte de sete colegas, um funcionário da lanchonete, e um professor de álgebra. A mãe culpa parcialmente a si mesma, acredita que por nunca ter sido uma entusiasta da maternidade, ficou fadada a criar de um indivíduo profundamente perturbado. Essa história, obscura e muito bem escrita, chegou aos cinemas em 2011 e não economizou em crueldade e terror psicológico.

  • Psicopata Americano

Esse livro faz com que você realmente questione a sanidade do autor, Bret Easton Ellis. Muitas pessoas provavelmente estão familiarizadas com a versão cinematográfica de 2000 estrelada por Christian Bale, mas o filme empalidece em comparação ao livro quando se trata de níveis de insanidade depravada. A história nos apresenta a Patrick Bateman ao longo de alguns anos de sua vida, um abastado engravatado de Wall Street que por nenhum acaso também desempenha a função de Serial Killer. Tudo se desenvolve através de seus assassinatos, que se tornam gradativamente mais sádicos, levando a algumas cenas que podem nunca sair completamente da sua mente. Dá para garantir que você vá se sentir (no mínimo) um pouco sujo após ler esse livro.

  • Réquiem Para um Sonho

Campanhas antidrogas deveriam parar de utilizar comerciais tradicionais aos quais ninguém presta atenção e começar a utilizar esse livro de Hubert Selby Jr. como leitura obrigatória nas escolas. As pessoas ainda usariam drogas, mas creio que pensariam duas vezes após lê-lo. É possível que grande parte do público esteja mais familiarizado com o filme lançado em 2000, estrelado pelo também cantor Jared Leto (30 Seconds to Mars) e sequer tenha noção da existência do livro… O filme, que trata com bastante fidelidade a narrativa original, traz a história de quatro personagens… Todos vêem as suas vidas arruinadas por diversos vícios e no fim das contas o personagem principal acaba não sendo nenhum deles, mas o vício em si, o que torna a obra um passeio profundamente deprimente, especialmente pelo seu toque de triste realidade.

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Certamente existem obras mais substanciais a nível de subversividade e loucura a disposição para quem queira ler, mas esses foram os exemplos de sucesso e amplo alcance que escolhemos para falar hoje. Entretanto, recomendamos que para a distração exista um controle do quão mal você deve se sentir… Nós gostamos de mistérios, assassinatos e histórias policiais, mas não incentivamos que você se atrofie apenas nesse tipo de segmento para se entreter. Explore os outros estilos, e nunca se force a assistir ou ler nada que ultrapasse seus limites e mexa demais com seu subconsciente. É importante saber respeitar a si mesmo… Mesmo porque, não há como curtir nada quando se está passando mal de verdade.

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Quem tem Tinder, tem medo.

Quem tem Tinder, tem medo.

Pergunte a qualquer um que tenha uma conta no aplicativo: é comum sentir receio ao criar um perfil com a sua foto, muitas vezes linkado ao Facebook, e não imaginar quem vai passar pela sua página nesse cardápio humano; Uma pessoa com a qual você cortou relações, um(a) ex qualquer coisa, amigos do(a) ex qualquer coisa, uma pessoa para a qual você se declarou morta, mas que você sabe que te stalkeia, e incontáveis outras desequilibradas e com caráter duvidoso. Dependendo também de como a sua mente funciona, fica impossível não começar a imaginar alguém que você detesta dando match em outro alguém que te fez muito mal, e prontamente visualizar a cena dessas duas pessoas terríveis sendo felizes juntas…

Poucas coisas no mundo são tão ruins quanto ver gente que não presta se refastelando na vida, e uma delas pode ser a experiência de tentar formar um vínculo com alguém 100% estranho estando atrás de um aparelho eletrônico. Sou muito liberal com algumas coisas, mas o Tinder traz a tona o conservadorismo que há em mim. Constatei que não gosto da dinâmica do serviço e do comportamento geral por lá. O aplicativo fornece seu nome e idade, local de trabalho e estudo, espaço para 6 ou 7 fotos e 500 caracteres caso você deseje colocar alguma descrição. São inúmeras as formas para julgar alguém num ambiente desses. Embora o que esteja exposto para primeiro impacto seja bastante restrito, tais informações acabam sendo marcantes pra alguém que, como eu, usa repelente a base de ceticismo quando tem que lidar com o desconhecido.

Depois de determinada idade, que varia de pessoa para pessoa, ficamos cheios de manias… Não da mais para aturar certas coisas, nem se misturar com todo tipo de gente. Passamos a utilizar filtros cuja exigência cresce de acordo com nosso amadurecimento, objetivos, decepções e gostos pessoais. Não é mais tão simples querer fazer parte da vida de alguém e deixar que esse alguém faça parte da sua também. Existem requisitos a serem preenchidos… A primeira impressão sempre vem pela foto de capa. Ali já da para saber se vale a pena ou não abrir o perfil para ver um pouco mais. Passo direto por gente na praia, cachoeira, no futebol, fazendo trilha, esportes radicais e naquelas muvucas sociais. Não tenho nada em comum com alguém que tem essas atividades como prazeres primários…

Passada essa fase da triagem, chegamos ao “sobre”, e aí o que pode parecer puro preconceito reflete, na verdade, um senso de autopreservação muito grande. Se tem WhatsApp publicado e/ou está pedindo seguidores no Snapchat/Instagram? Passo. Expressa apoio/uso de drogas, dependência alcoólica e/ou fanatismos? Passo. Erros de português, concordância, falta de coerência e frases obsoletas tipo: Foco, força e fé – Deus no comando sempre – Vem que no caminho eu te explico? Passo! Eu me conheço bem, não quero contato com quem que se expõe tanto, com alguém que da tanto valor aos likes e follows da vida online, com vícios que desaprovo, com déficits difíceis para um jornalista engolir, e alguém incapaz de se expressar com as próprias palavras em menos de 500 caracteres.

Se uma amizade assim eventualmente surgir será naturalmente, por contato direto, nunca por uma busca online, e o que faz diferença nesse caso é justamente a questão de se tratar de uma busca. É muito diferente entrar na vida de alguém por ação do destino e procurar fazer parte da vida de alguém através de um meio digital. Na internet, a avaliação se torna mais criteriosa pois ela grita que, se tudo der errado para você, a culpa é sua. Se foi algo que você mesmo procurou, e além de procurar, permitiu, você só tem a si mesmo para responsabilizar por qualquer cilada na qual venha a se meter. É provável que você justifique seu sofrimento com a transgressão alheia e sinta pena de si mesmo por ter sido sacaneado, mas não é nada fácil admitir que talvez você esteja passando por algo desagradável por ter sido permissivo e inconsequente.

Para evitar tudo isso eu antecipo possibilidades, não faço nada tomando por garantia a certeza. Meses atrás uma amiga me convenceu a abrir uma conta no Tinder. Ela contava regularmente histórias divertidas com pessoas legais que encontrou através do app. Lá pelo vigésimo sétimo relato de pessoa incrível, resolvi arriscar. Essa experiência serviu mais como autoavaliação crítica e estudo antropológico, do que realmente uma forma de conhecer gente interessante, embora eu tenha conhecido uma ou duas. Me vi diante de desafios morais ao utilizar o aplicativo, especialmente quando meu superpoder de Overthink¹ entrava em ação. Se eu começasse a conversar com alguém que diz que não se diverte sem bebida, meu superpoder era acionado… Ele me colocava num Flashforward² e me fazia visualizar um futuro que ainda era apenas uma possibilidade.

Nesse futuro imaginário nós éramos amigos, e essa pessoa que não se divertia sem bebida há muito já se tornara um alcoólatra. Ao voltar para o presente, instantaneamente surgiam as perguntas: Vale a pena? Vale a pena abrir minha vida para essa pessoa, que já se mostra bastante problemática, me importar com ela, para mais tarde ter que lidar com isso? Vale a pena arriscar perder uma amizade caso a pessoa não admita que precisa se tratar? Vale arriscar me tornar vítima de qualquer insanidade temporária causada pela mistura perigosa do meu amigo? E após pensar em muitas mais perguntas como essas, o meu interesse pela pessoa e em ter qualquer tipo de envolvimento com ela caíam por terra.

Todos temos bagagem. Todos temos qualidades, defeitos e vícios; Fantasmas e coisas mal resolvidas, mas algumas são mais graves e pesadas que outras, e tem coisas com as quais não vale a pena lidar. É horrível pensar em deixar alguém de lado por sua bagagem, mas quando você admite que existe uma possibilidade de futuro, por menor que seja, você precisa considerar que, como amigo ou como algo mais, os problemas dela (dependendo de quais forem) podem te afetar, e você já tem problemas suficientes com os quais lidar. Qualquer relacionamento exige troca, apoio… É praticamente impossível não se envolver nos dilemas de alguém por quem você tem grande estima, e eu costumo ter bastante pelos meus.

É natural do ser humano ter medo de não ser amado, medo de ficar sozinho. Acredito que ninguém que inicia a formação de um vínculo imagina o seu fim, sexo casual e contatos profissionais não se enquadrariam nesse contexto de vínculo. Acredito que ninguém idealiza uma amizade problemática, com prazo de validade… Ninguém quer amigos para curtir sexta feira a noite e com os quais não se pode contar para nada além disso, nem deseja se apegar a alguém e depois ver essa pessoa ir embora, por qualquer que seja o motivo… A ideia que as relações passam é que serão sólidas e eternas, mas conforme essa inocência é perdida, elas se mostram frágeis. Isso também é natural do ser humano, e já que as coisas acontecem assim, seja no Tinder, na vida real ou virtual, não custa nada ter prudência antes de deixar alguém entrar no seu mundo.

Não sei vocês, mas eu prefiro não ter que me despedir de ninguém.
E se quem tem Tinder não tem medo, acho que deveria começar a ter…

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¹ Overthink: ato de pensar demais.

² Flashforward: é a interrupção de uma sequência cronológica narrativa, uma forma de apresentar um momento futuro.

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