Certa vez na faculdade um professor designou um trabalho extremamente chato para fim de período. Tratava-se do fichamento de uma das obras literárias mais importantes da história da filosofia e a principal de Aristóteles, Ética a Nicômaco.

Por ter esse amor à sabedoria considerei uma leitura excelente, mas ter que interrompê-la constantemente para realizar o fichamento tornou a tarefa desagradável. Agora – dois anos mais tarde -, dando uma segunda olhada no meu trabalho, esbarrei em um tópico que chamou minha atenção. Nele surge o questionamento:

Uma amizade deve chegar ao fim quando um dos amigos muda de caráter?

Faz sentido dizer que na sociedade atual existe de tudo, desde pessoas que descartam amizades e relacionamentos com a mesma rapidez com que fazem a digestão, até pessoas que insistem em amizades e relacionamentos falidos pela familiaridade e pelo apego.

Logo após o questionamento Aristóteles explica:

Se um bom homem se torna amigo de alguém no pressuposto de que essa pessoa é boa, mas acaba se tornando má, ele não deve imediatamente romper a amizade. Primeiro, deve tentar ajudar o amigo corrigir seu caráter.

Em prol dessa tentativa de dar ao meu amigo a chance de mostrar ser quem eu conheci e amei, acabei ultrapassando o limite do aceitável. Por meses me forcei a permitir que essas pessoas que me fizeram mal continuassem recebendo minha atenção; Ao minimizar os erros com pensamentos como “foi só uma mancada, é burrice me afastar por causa desse deslize”, descobri que burrice mesmo foi mantê-las por tanto tempo na minha vida, dando oportunidade para que cometessem diversas outras gafes, tornando nossa convivência um aborrecimento constante.

Demorei a abrir mão da familiaridade e do apego para enxergar que aquela pessoa com quem eu estava insistindo em ter um relacionamento não era o amigo que fiz anos atrás. Foi necessária muita força para cortar esses laços e tentar fazer isso da forma menos danosa possível, mantendo o respeito e tentando explicar que apenas não estava mais dando certo. E foi a melhor coisa que fiz por mim.

Enfim, o filósofo conclui:

Se o amigo está além de correção é aceitável acabar com a amizade.

Nunca será fácil se desfazer de alguém, nem mesmo quando esse alguém te der todos os motivos para isso, mas as vezes é necessário. Nem todas as relações devem para durar para sempre, principalmente aquelas que não fazem mais sentido quando se pensa no que uma amizade deve ser.

Aproveite esse começo de ano para se dar uma chance de viver melhor. Isso não é um incentivo para que você passe a descartar pessoas, apenas para que aprenda a redirecionar seu afeto para quem o merece, quem verdadeiramente te valoriza. Saiba respeitar os seus limites. Tire as pessoas tóxicas da sua vida e dê valor as que te fazem bem, ou pelo menos àquelas não te fazem mal.

segundasdeprimeira post1

Um comentário sobre “O Limite da Amizade

  1. Você me ensinou os prazeres da limpeza na lista no FB e os prazeres de classificar como restrito quem não posso deletar, mas também não quero que saiba da minha vida. Eternamente grato 🙂

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