Obrigada

Eu fiquei com a melhor parte.

Não que importe para você, mas importa para mim.

Talvez você nem pense mais nisso, em mim e tudo que passamos no tempo que tivemos, ou talvez ainda sinta o tormento que senti por muitos anos depois que tudo teve um fim. Eu lembro que fui eu que defini esse fim, mas o fiz por necessidade. Sabe, quando você passa a permitir que alguém te magoe quase diariamente, só por amor, afeição e apego é sinal de que você talvez precise de ajuda.

Eu precisava.

Enxerguei essa necessidade, minha fraqueza, meus erros e ao que eu vinha me submetendo a viver por querer te manter perto de mim. Diagnostiquei minha doença e ela tinha nome próprio, o seu. E depois disso, ainda tardei a aceitar que a única cura era a distância.

Desde que nos apartamos sonhei contigo incontáveis noites. Os sonhos nunca eram bons, e eu não gostava da sua imagem de forma recorrente no meu subconsciente. Há quem diga que quando isso acontece é porque o outro ainda pensa em você, está falando de você. Eu não sei, talvez você ainda se junte com uma ou duas pessoas para falar mal de mim, pois tenho certeza que já se entreteu algumas horas com isso, como eu me entreti também. Não sou hipócrita a ponto de negar que relembrar seus pontos negativos e suas atitudes idiotas foram excelentes aceleradores para queimar o resto de afeição que eu sentia por você. E eu abusei desse método nessa e em outras situações.

Por mais preciosa que uma relação seja, que a nossa fosse (como eu a via e sentia), por mais falta que eu tenha sentido de você quando nos afastamos, senti também um alívio que não consigo explicar. Te dizer tudo que me estava entalado foi definitivamente como tirar um boi das costas. E depois de feito, eu sequer chorei… Me senti liberta.

Foi uma pena você não ter recebido bem, por mais que eu tenha me empenhado em nos findar de forma educada e respeitosa. Acho que sua reação diz bastante sobre quem você é, o caráter que tem, e quanto difere de quem eu sou. Acho que serviu para deixar mais claro que eventualmente aquele seria o nosso destino.

É incrível como pequenas coisas da vida acabam nos fazendo trombar com uma referência que nos leva a pensar diretamente em alguém que queremos esquecer. E foi assim que me peguei pensando em você hoje, depois de tanto tempo sem lembrar que habitávamos a mesma terra. Foi o que me motivou a escrever isso tudo aqui…

Em meus devaneios, percebi que fiquei com a melhor parte do desfeito.

Sim, perdi alguém com quem eu contava para tudo, tive minha confiança traída, nunca mais me permiti ter nada sequer parecido com outra pessoa, mas, mesmo sem me esforçar para isso, ganhei a melhor fatia do bolo.

Não vou fingir que não existe uma disputa camuflada quanto a quem se deu melhor na vida depois do fim, existe sim, e hoje eu sinto que tenho motivos para acreditar que me dei bem. Pelo pouco que ouvi de quem você se tornou, por conhecidos que ainda não entenderam que de você não quero ouvir nem o nome, nada pareceu ter mudado.

Suas noções parecem as mesmas. As mesmas limitações autoimpostas, a mesma falta de personalidade, a mesma carência exacerbada, ainda colocando a responsabilidade da sua felicidade em cima dos outros… Considero isso uma queda alta e brutal. Pior que não melhorar, é continuar o mesmo quando não se é uma pessoa boa.

Se ainda penso em você? Às vezes…

Se sinto sua falta? Não.

Sinto falta do que eu achei que tivéssemos, e claramente não tínhamos. Sinto falta de experimentar o gosto da idealização, algo que perdi quando te deixei de lado. Você tirou um pedaço muito grande de mim. Idealizar soa parecido demais com autoenganação, e isso eu nunca mais vou me permitir, mas utilizar esse recurso era um truque que ajudava a adoçar a vida em momentos não tão fortuitos.

Depois de você abandonei o açúcar. Hoje uso adoçante. Todo mundo sabe que não é a mesma coisa, mas faz menos mal à saúde. Física e mental… No processo, perdi peso, ganhei confiança, aprendi a dizer não, aprendi a impor limites, aprendi a não aceitar menos do que dou, menos do que sou. Aprendi o que é prioridade, e não tem nada mais gostoso que isso, nem chocolate.

Gordofobia Rio 2016

Noite preguiçosa de sexta, assistindo a apresentação das atletas do arremesso de peso feminino na #ESPN… Todas gordas, mas e daí? Não é novidade nenhuma que pessoas sobrepeso e obesas são tão capazes de agilidade, força e coordenação motora quanto uma pessoa considerada magra ou de tamanho padrão. E então veio o comentário que eu não esperava:

“Apesar do tamanho das moças aí, essa é uma prova de velocidade.”

Ta aí uma frase que eu não pensei ouvir, ao vivo, em plena Olimpíadas. Prontamente comentei com amigos que também estavam assistindo à transmissão para constatar que eu não havia ouvido errado, e eu tinha escutado bem demais. Naturalmente não pude manter o planejamento do texto que seria publicado aqui hoje. Então vamos falar (de forma breve) sobre gordofobia e sua versão mais desprezível, a gordofobia disfarçada.

Por mais que não tenha sido usado nenhum termo pejorativo, a forma como a frase foi falada, com a entonação e o contexto em que está inserida, ela acaba por se tornar, sim, um insulto. Ela delimita uma clara linha de capacidade – ou da falta dela, a partir da forma física das pessoas, não apenas das atletas em questão, mas de todas as pessoas que compartilham aquela condição. Interessante que, ao assistir o rugby também vemos atletas gordos, mas não lembro de nada ter sido dito a respeito de sua forma física. Talvez eu tenha perdido algum jogo, ou talvez fosse outro comentarista.

Isso nos faz pensar no quanto esse tema ainda é ignorado e encarado como piada hoje em dia. Tem sempre alguém pra dizer que quem reclama de gordofobia, machismo e homofobia está se vitimizando, ~cagando regras~ ou ~problematizando~ (como virou moda rotular), sobre questões que não passam de brincadeiras, parte da cultura ou da religião, respectivamente. Para essas pessoas, bullying não existe, a gente leva tudo a ferro e fogo, não temos senso de humor… Bom, em certos assuntos não cabe mesmo nenhum senso de humor.

Certamente esse jornalista, se é que se trata de um, não será repreendido por seu “lapso”. Por explanar de forma tão ~inocente~ sua opinião, pura gordofobia disfarçada, sobre um assunto que atinge mais de 50% da população brasileira, mais de 2,1 bilhões de pessoas sobrepeso e obesas ao redor do mundo, e principalmente, as mulheres que estavam sendo expostas naquele campo, acenando para o público, após anos de treinamento para se tornarem boas o suficiente ao ponto defenderem seus países numa competição mundial.

É ultrajante que esse tipo de coisa aconteça, e mais ultrajante ainda que seja tolerada. Você não precisa gostar de gordos nem querer ser um, você precisa apenas não desrespeitá-los, não desmerecê-los, e não julgá-los por sua forma. Qualquer incapacidade de viver dessa forma acaba por dizer muito sobre o tamanho e o peso do seu caráter.

Cidadania: Um Exercício Diário

Como não sou uma pessoa mal educada, frequentemente esqueço que elas existem. Como humana e civilizada, eu aprendi desde muito nova  minha responsabilidade como pedestre. Respeitar o sinal, atravessar na faixa, olhar para os lados, enfim, o básico… O que não quer dizer que eu sempre respeite essas regras, mas que tenho consciência, quando as infrinjo, que se algo acontecer comigo, a culpa provavelmente será minha.

Frequentemente ocorrem acidentes entre pedestres, ciclistas, motoqueiros e carros de passeio, ônibus ou caminhões. Quando acontece algo desse tipo eu automaticamente acarreto a culpa ao maior “agressor”, que, nesse caso, é o veículo de grande porte. Só não condeno o motorista quando a apuração do caso prova que ele não teve culpa… O interessante é que quase sempre essas histórias somem da mídia antes de responderem quem atravessou o caminho de quem. E no noticiamento do fato recente, o motorista acaba ficando estigmatizado pela fatalidade.

Por esses dias, eu e minha mãe atravessávamos na faixa com o sinal aberto para os pedestres. Íamos do lado que havia ciclovia, para o lado da faixa dos ônibus. Eu cheguei a calçada primeiro e ela logo atrás de mim. O que eu não percebi (e não esperava) era um ciclista que vinha se espremendo, em movimento e alta velocidade, entre o meio fio e os carros parados no sinal. Não satisfeito em estar do lado oposto à ciclovia e em quase atropelar minha mãe, ele ainda berrou no ouvido dela ao passar para que ela saísse do caminho.

Ela acabou respondendo e ele não gostou do fato dela ter reagido a seu atrevimento. Então, deu meia volta com a bicicleta e resolveu comprar briga… A rua toda parou para olhar, mas naturalmente ninguém fez nada, afinal, estamos no Brasil. Talvez, mais dia, menos dia, esse indivíduo acabe atropelado por aí, possivelmente por culpa dele mesmo, e é provável que essa se torne mais uma situação em que o motorista acaba, aos olhos do público, como o culpado.

Como jornalista, sou compelida a buscar a verdade, os dois lados da história, antes de ir acender uma vela no local do ocorrido pela alma do pobre vitimado. Mas como humana, sou automaticamente levada a acreditar que o galho quebrado é o que foi prejudicado, e nem sempre é esse o caso. Estou falando sobre mim, mas sei que muitos por aí acabam fazendo o mesmo.

Precisamos perder esse hábito e nos reeducarmos não só como pedestres, ciclistas e motoristas, mas principalmente, como cidadãos. Precisamos entender a nossa responsabilidade diante de todas as situações, do mundo, das nossas vidas e da vida daqueles que nos cercam. Só assim poderemos começar a construir uma nação. Por enquanto, somos só um bando de gente existindo no mesmo pedaço de chão…

O Esnobismo do Brasileiro

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Em meio a maior crise econômica pela qual o país já passou, todos se preparam para as Olimpíadas, exceto os brasileiros sensatos. Eu particularmente prefiro o termo OlimPiadas… Além da vergonha internacional em larga escala a qual o Brasil foi submetido pelos escândalos políticos, viramos alvo de diversas sátiras e críticas que considero bem merecidas. Mas, para justificar minha ojeriza ao evento, vou ilustrar o circo lembrando do que ocorreu apenas na semana passada:

Temos obras inacabadas, superfaturadas e malfeitas, risco de ataque terrorista, sequestro relâmpago de atletas, despreparo das forças de segurança em todos os níveis, falta de recursos em hospitais para atender a qualquer demanda, prováveis catástrofes com desabamentos, mortos e feridos pelas obras que citei acima ou qualquer outra desgraça que possa ocorrer, Vila Olímpica aos cacos, Bahia de Guanabara mais radioativa que o lixão da Dona Lucinda… Já chega, não é?

Não, não é. Antes fossem só esses os problemas do país. Nosso currículo está realmente podre! Nunca as taxas de desemprego foram tão altas. Por todos os lados, cortes em empresas colocam funcionários com anos de carreira com agenda toda livre. Há também a troca de profissionais graduados por estagiários. Eles são mais baratos, e não se engane, aquele que for fisgado nessa pescaria terá que desempenhar as funções de quem antigamente era considerado tubarão. Quem aguentar o tranco com certeza vai aprender bastante, mas não é todo mundo que consegue encarar tanta responsabilidade de cara.

Enquanto isso, do outro lado do oceano, o tubarão se vê reduzido a plâncton em pleno vazamento de óleo. A quem está sem emprego resta muita incerteza sobre o futuro, além da atribulação de questões (i)morais completamente enlouquecedoras. Primeiro vem o choque: um dia você mal tem tempo para assistir um filme, no outro, pode embarcar numa maratona na Netflix, pois tempo é tudo o que você tem. Em princípio pode ser que soe como um bom descanso, necessário e merecido, mas em questão de horas isso se torna um dos maiores tormentos que um adulto poderia enfrentar.

Quando você experimenta a dura realidade de estar cadastrado em mais de 20 sites de vagas, enviando currículos para diversos cargos – inclusive inferiores a sua formação e experiência, e não recebe NENHUM feedback de NENHUMA empresa, a coisa realmente começa a te consumir fisicamente. Todo esse estresse age como veneno no corpo. Surgem coceiras aqui, pintas ali, o cabelo cai, a pele fica terrível, a insônia surge, a libido desaparece, e em algum momento você começa a desejar a morte. E entende que talvez precise de uma ajuda psiquiátrica, mas, cadê a grana para pagar o plano de saúde?

Eventualmente, você se vê diante da opção de se candidatar a vaga de caixa em loja de departamento, atendente de farmácia, garçom, e até pensa em prostituição… Mesmo que se consiga ultrapassar o esnobismo em prol da necessidade de sobrevivência, em certo grau e ainda que de forma camuflada, ele fala mais alto. Seus desejos internos pedem que não venha nenhuma resposta daquela vaga, já que não vieram de tantas outras. O caso aqui não é desprezar a dignidade do trabalho de atendente ou garçom, mas é ter que engolir que você estudou e trabalhou para não ter que servir ninguém, e agora talvez tenha que recorrer a essa opção para poder se sustentar.

Se imaginar naquele cargo se torna inevitável, a imagem dos tipos de pessoa que você terá que servilmente servir ficam nítidas: ex companheiros de trabalho e demais atividades, amigos, conhecidos, pessoas que te odeiam, pessoas que você odeia, pessoas que iam se regozijar de saber que você está fodido carregando uma bandeja para poder sobreviver, pois você virou vítima da crise. Com isso, os sentimentos de incompetência, impotência e injustiça se tornam abrasadores. Você não deveria estar passando por aquilo… E não é a toa que tanta gente cometa suicídio diante da falência.

Há quem passe por cima desse orgulho com praticidade, mas em geral, para a maior parte das pessoas é muito difícil aceitar se sujeitar a essa mudança radical. Isso me faz pensar num assunto que foi bastante debatido enquanto rolavam manifestações pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff. Uma família foi “fazer a sua parte” e protestar contra o governo, e levou consigo a babá que empurrava o carrinho de uma criança. A imagem foi registrada e viralizou na internet. Entre o burburinho causado nas redes sociais, uma questão foi levantada e permaneceu no meu inconsciente.

A tal família, muito condenada por sua atitude, publicou uma carta aberta apontando o quão digno era o trabalho daquela babá, que ela era um membro da família, estava recebendo todos os direitos previstos pela lei e que não havia vergonha nenhuma naquele trabalho. É verdade, mas, em sábia resposta alguém rebateu: “o dia que um abastado crescer querendo ser babá, faxineira ou garçom, nós voltamos a essa discussão.” Embora pareça extremamente esnobe colocar a situação dessa forma, em preto ou branco, sem considerar o cinza e as outras cores, estamos lidando com a verdade nua e crua.

E para alguém que ocupava um cargo de prestígio, de repente se ver colocando currículos para vagas financeiramente e em termos de formação, inferiores, é um tapa na cara. Você valoriza essas profissões, desde que não tenha que desempenha-las. Isso é sim um tipo de hipocrisia, e ela pode ditar se você vai sobreviver a crise ou afundar com ela. A divisão de classes foi e sempre será uma pedra no caminho da evolução social. E olha que eu não sou comunista, sou pró capitalismo, mas ele é cruel, é para poucos, e muitos que desfrutavam dele, hoje já não podem mais.

Para consertar o país seria necessário consertar seus cidadãos, ou pelo menos ensinar-lhes o real conceito de cidadania e igualdade, que não tem nada a ver com justiça, mas fariam diferença para o convívio em sociedade. Seria necessário derrubar as barreiras que criamos entre A, B, C e lembrar que existem pessoas abaixo da linha da pobreza que adorariam ter a opção de poder servir mesas para levar o sustento para casa. Seria preciso entender que enquanto a gente reclama que não pode mais ir ao cinema como antes, muitos não tem um teto, nem o que comer.

Vamos repensar nossos preconceitos, abandonemos o esnobismo…

Não é vergonha tê-los, mas é vergonhoso querer mantê-los.

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Reflesexta I: Atenção Virtual do Amigo Real.

Como adoramos inventar palavras, aí vem mais uma para o nosso dicionário particular: Reflesexta trarão pequenas (ou nem tanto) reflexões sobre a vida. Serão as nossas historinhas de fim de semana, sempre publicadas às sextas, para você matutar um pouquinho aí durante a folga… Então vamos ao primeiro tema da série:

***

Os conceitos de amizade, carinho e consideração hoje em dia são bem deturpados, não é?

Se você considera alguém seu amigo, e acredita que essa pessoa também te considera um amigo; Se você apoia os projetos, curte, compartilha, mostra para outras pessoas, e depois descobre que seu ~amigo~ não tira 5 segundos para fazer o mesmo por você, ou sequer para te seguir de volta numa rede social ou comentar as publicações dos seus projetos pessoais, a amizade, o carinho e a consideração que você sente por ele acabam sendo afetados negativamente.

Por mais que pareça estúpido, rola uma mágoa genuína. As redes sociais definitivamente vieram para mudar a forma com que interagimos, agimos e reagimos às coisas. Isso tem seu lado negativo, e tem também o seu lado positivo. E nesse caso específico, talvez até um unfollow rancoroso ocorra, tipo: “se você não me segue/apoia, não serei eu que vou ficar aqui dando ibope para o que você faz.” Fizemos tanta piada com o papel de trouxa que esquecemos que ele realmente existe e muitas vezes nós nem percebemos que estamos fazendo.

E quando você vê que além de não haver reciprocidade no apoio, esse ~amigo~ apoia/da ibope para artistas que estão longe de sua realidade, famosos que já estão consagrados e não precisam daquele like ou daquele compartilhamento que ele da com tanto bom gosto, a situação fica ainda mais chata. Claro que ele não deve deixar de seguir e apoiar quem ele gosta, mas custa tanto assim fazer o mesmo por você?

Pior que isso é descobrir que seu bff está curtindo projetos de pessoas que ele sabe, foram sacanas com você, mas não está nem aí para o seu. O sentimento que desperta não se restringe mais ao online, e isso afeta de verdade a sua relação com a pessoa. Sim sim, parece idiota, mas o apoio ou a falta dele deixam claro o desinteresse do outro, e tomar consciência do desinteresse de alguém que você estima, e alguém que diz se preocupar e te amar, mesmo que seja aparentemente apenas um desligamento virtual, pode ser fatal até para as amizades mais antigas.

E por que, se parece ser um motivo bobo para deixar afetar seu relacionamento, isso ainda importa? Porque a reflexão dessa falta de apoio toca no que é real dentro de você e em tudo que vocês compartilham como amigos.

O conselho da sexta feira é: preste sempre atenção nos seus amigos-de-fé-irmãos-camarada, eles podem ter abandonado esse posto na sua vida, enquanto você continua perpetuando rituais de parceria unilaterais. E para vocês que são amigos de alguém, deem atenção ao que eles produzem. Com certeza o seu carinho vai render mais frutos quando direcionado ao seu amigo, do que àquela banda ou àquela pessoa distante, que nem faz parte da sua vida, mas para qual você dedicou 5 ou mais segundos de atenção, enquanto negligenciava quem tem te apoiado.

Bom fim de semana, Leigores ☕️

Nem Sempre Confesse

Nem Sempre Confesse

Resolvi aproveitar o clima do confesse que está rolando por causa de Game of Thrones para publicar esse texto que está há meses na minha gaveta… Isso poderia ter sido um desabafo, uma confissão cara a cara, mas optei que não fosse, pois se confessar nem sempre vale a pena.

Conheço uma mulher há tantos anos que meu primeiro instinto é chamá-la de menina. Bom, ela já fez 20 e muitos anos e nós comemoraríamos duas décadas de amizade… Se ainda fossemos amigas. Decidi não transformar meus incômodos e mágoas com ela numa DR, muito menos numa tentativa de consertar as coisas entre nós. É de se esperar que em tanto tempo nós tenhamos tido os nossos atritos e breves períodos brigadas uma com a outra. Não era uma amizade perfeita e nem teria como ser, uma vez que nós não o somos.

Passamos por muitas coisas juntas e no ano passado houve um incidente que invocou o basta dentro de mim. Depois de certa experiência com as pessoas você se torna mais prático na vida, e passa a decidir por quais lutas vale a pena brigar, e por essa não valia. Em nossos raros contatos, antes do momento basta, voltávamos àquela velha máxima de “vamos marcar”, e nunca de fato marcávamos. Eu tentava, mas aos poucos fui notando que essa manifestação da parte dela era totalmente vazia. Também fui chegando à conclusão que eu não sabia nada sobre a vida daquela grande amiga de longa data, mas que sempre que nos falávamos eu contava tudo o que havia acontecido na minha.

***

Outro dia vi a história de David que, ao começar a amadurecer deixou de lado seu melhor amigo de infância, Scott. O primeiro já pensava em namoro, enquanto o segundo ainda se agarrava aos velhos hábitos de infância. Havia uma crescente diferença de interesses entre os dois, e nenhum adolescente conseguiria lidar com essa situação com sabedoria emocional. David então acabou se afastando de Scott por achar que seu comportamento atrapalhava sua imagem perante os colegas.

E o que aconteceu no decorrer da narrativa surpreendeu a todos… Scott estava fazendo aniversário e não abriu mão da presença de seu melhor amigo durante a comemoração. Forçado a ir pelos pais, que nunca tem noção do quanto seus filhos são capazes de mudar do dia para a noite, David compareceu. E, durante a festa, Scott sofre um acidente e morre. David, que estava odiando cada segundo presencia o acidente e embarca num espiral de culpa por ter sido negligente com aquele que havia sido seu primeiro e único amigo de longa data.

No dia seguinte, na escola, embora 97% dos alunos do colégio sequer soubesse quem Scott era, tomar consciência de que alguém que caminhava naqueles mesmos corredores ontem, está morto agora, abala a ideia que os jovens costumam ter de que esse tipo de coisa nunca vai acontecer com eles ou com alguém próximo. Logo começam a inquerir David sobre Scott, seus hábitos e gostos, e isso o tira do sério. O adolescente explode diante de todos.

Ele admite que vinha sendo um péssimo amigo para Scott, mas acusa todos ao seu redor de também estarem sendo. Ressalta que embora estivesse tratando Scott mal, essas pessoas que agora parecem super interessadas nele também o tratavam mal o tempo todo. Que não faz diferença nenhuma que queiram conhecer Scott, agora que ele está morto, através de suas memórias, e que ao invés disso deveriam demonstrar um mínimo de interesse, cuidado e carinho por aqueles que chamam de amigos e ainda estão vivos.

***

Eu demorei a perceber que eu era amiga daquela mulher, mas que, por diversos fatores ela não era minha amiga. O caso é que existem conflitos e diferenças pessoais que podemos superar, e outras ocorrências que às vezes sequer podem receber essas denominações pois não passam de acontecimentos naturais da vida, mas que nos levam por caminhos opostos, e que podem terminar de descascar aquele pneu careca em que uma relação havia se tornado e determinar a estrada que uma amizade irá tomar.

O foco aqui não é falar sobre o que aconteceu comigo, nem com o David e o Scott, mas usar esses cases como exemplo para que talvez você possa refletir e reconhecer algo de errado nas suas relações. Para que haja tempo de evitar o afundamento do barco, caso se julgue possível e seja da vontade de ambos. E não só isso, o tópico é também explicar que eu escolhi o naufrágio dessa amizade, pois acredito que não devemos lutar por certas coisas. As relações – e isso é uma verdade universal – são uma via de mão dupla.

Na medida do possível, tente não cobrar e não exigir nada de ninguém. Na verdade, quanto menos você precisar emocionalmente dos outros, melhor para você, mas caso tenha certas dependências emocionais, entenda, se o carinho ou a amizade não vierem naturalmente é porque o outro não quer, não acha importante, não tem interesse. Não se diminua e não mendigue atenção como o Scott fez para se agarrar ao David, não ignore o que te incomoda e empurre mágoas com a barriga como eu fiz para evitar conflitos.

Se você acha que a sua relação com alguém é frágil e não vai resistir a mais uma ou duas pancadas, ou simplesmente, não vale a pena se indispor desse jeito por motivo nenhum, é provável que nem exista mais uma relação para ser salva, apenas a lembrança do que um dia ela foi. Você não precisa entrar num pé de guerra e terminar algo de forma desagradável só para reforçar o status que de certa forma já era vigente. Pior que perder um amigo é querer forçar alguém a querer continuar a ser seu amigo… Não confesse. Deixe estar… E de vez em quando, ria das boas lembranças que você vai inevitavelmente guardar.

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One Last Prince

One Last Prince

Na manhã do dia 21 de abril 2016, Prince, que vinha lutando contra um resfriado há semanas, foi declarado morto após ser encontrado desacordado no elevador de sua casa, em Minnesota, ao norte dos Estados Unidos. Apesar dos primeiros socorros devidamente prestados, não foi possível reanimar o cantor, que já havia sido levado ao hospital no dia 15 em estado de emergência com desidratação severa.

Prince era seu nome real. Nascido em 7 de Junho de 1958, ele, que mais tarde se tornaria um ícone mundial, demonstrou interesse por música ainda muito jovem, escrevendo sua primeira letra com apenas 7 anos. Virtuoso e visionário, Prince se esforçou para crescer como um artista multi-instrumentalista. Seu primeiro disco foi lançado aos 19 anos, em 1978. Entitulado “For You”, o álbum conta com a performance de Prince em todos os instrumentos, em absolutamente todas as faixas. Com batidas de funk, rock e dance music, letras sexualmente provocativas e baladas de cortar o coração cantadas em falsete, esse seria o primeiro dos 39 álbuns que o artista lançaria ao longo de sua carreira.

Reconhecido como um músico extremamente talentoso e de capacidades incomuns, ele passou a viver atrás dos portões de Paisley Park, onde foi encontrado, e mantinha certo mistério sobre sua vida pessoal, além de uma política de restrição total a aparelhos que pudessem gravar imagem ou áudio. Após certa fama, Prince passou a evitar entrevistas, e preferia deixar a sua música falar por si. Em 1984, ele passou a se referir a sua banda como The Revolution, e com essa nova denominação lançou o álbum Purple Rain, que serviria de trilha sonora para um filme homônimo no qual atuaria.

Purple Rain, um musical caleidoscópico que é parte autobiografia, parte fantasia, veio para quebrar um pouco do mistério que cerca o cantor. O filme levou o mundo do cinema a loucura da mesma forma que a música. O disco vendeu mais de 13 milhões de cópias apenas nos Estados Unidos, mantendo por 24 semanas consecutivas o primeiro lugar na lista da Billboard. Ao filme restou um Brit Awards de “Melhor Trilha Sonora”, um Grammy de “Melhor Álbum Instrumental para Filme”, um Image Awards para a atuação de Prince, e um Oscar de “Melhor Canção Original”, em 1985. Prince, que já não era desmerecido, passou então a ocupar oficialmente um lugar no pódio ao lado dos demais gigantes pop dos anos 80, como Michael Jackson e Madonna.

Com apenas 57 anos, o cantor já havia cancelado duas performances esse mês por não estar se sentindo bem, e ainda tinha outros shows marcados da turnê “Piano & a Microphone”. Seu último álbum, HITnRUN, foi lançado em setembro de 2015 pelo Tidal, serviço de assinatura para distribuição digital de música. Sua música que marcou gerações, e seus quase 40 anos de carreira fizeram dele um dos artistas mais influentes de todos os tempos. Seu falecimento repentino abalou fãs e comoveu celebridades ao redor do mundo. As causas de sua morte ainda estão sendo apuradas.

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A Carência da Moda Nacional

A Carência da Moda Nacional

Essa semana fui levada a refletir sobre a indústria de moda nacional, mas não de forma geral, o foco do pensamento foi voltado ao nicho Mignon e Plus Size com relação a variedade, preço e qualidade. Enquanto sua reação com o mundo da moda talvez possa ser expressada com satisfação pelas tendências que surgem, as que ressurgem, e surpresa pelas que sobrevivem por temporadas e mais temporadas sem perderem o apelo social, para mim, o buraco no que diz respeito a inclusão e representatividade é bem mais embaixo… É sério que já estamos em 2016 e tudo continua quase igual a 10, 15, 20 anos atrás para quem é pequeno ou magro demais, para quem é sobrepeso, para quem é alto, e para quem calça menos que 36 ou mais que 39? Brasil, queira melhorar…

De roupas à calçados, há uma carência sem precedentes no mundo fashion para pessoas que não se enquadram nos tamanhos considerados padrão. Para as mais magras e/ou baixinhas, conhecidas também como Mignon, ter que comprar roupas na seção infantil não é uma novidade, muitas só encontram opções ali. Para as mais gordinhas e/ou altas, não encontrar uma roupa que lhes sirva ou que não pareça ter sido feita com panos de chão melhorou um pouco nos últimos anos, mas ainda está longe de alcançar o resultado ideal. Mas especialmente, para quem calça menos que 36 e mais que 39 a vida pode se tornar consideravelmente mais amarga.

O interessante é que todos precisamos do algo para vestir e calçar. Cada situação social exige um decoro, não só no que diz respeito a comportamento, mas também a um tipo de código de vestimenta do que se adequaria a determinada ocasião. Além de enfrentar as dificuldades já citadas em encontrar algo que sirva, os poucos produtos que atendem a necessidade dessa parcela de pessoas excluídas das araras são extraordinariamente mais caros do que aqueles que se encontra de sobra no mercado. Quando não, o que reina é o acabamento porco e má qualidade dos materiais, resultando em mercadorias que podem ser consideradas descartáveis. Depois de usar poucas vezes, já não presta mais…

Usemos como exemplo uma mulher plus size… Além do sobrepeso, o que já dificulta bastante a satisfação do guarda roupas, a biologia de seu corpo resolveu que ela teria um pé tamanho 42… Em que loja de calçados ela pode encontrar sapatos que lhe sirvam? Numa busca rápida na internet encontrei 5 sites nacionais que comercializam sapatos com “numeração especial”, como são chamados. E essa é a opção desta mulher; Ter que escolher entre modelos limitados, comprar pela internet sem a certeza de que o sapato tem qualidade ou se irá calçar bem, lidar com a possibilidade de precisar trocar a mercadoria, lidar com as burocracias dos Correios (outro serviço porco do país) para essa troca, e claro, pagar uma fortuna por isso. Enquanto uma sapatilha de “numeração padrão” pode ser encontrada por R$50 em qualquer loja física perto da sua casa, uma com “numeração especial” começa a ser vendida à partir de R$90 na loja online mais barata.

Talvez você esteja pensando que são casos isolados, ou que não constituem uma quantidade significativa de pessoas a ponto de merecerem atenção da indústria, mas não é bem assim. Existe uma grande parcela da comunidade feminina cujo pé não parou de crescer quando chegou ao 39. Eu mesma, no meu limitado grupo de amigos conheço umas dez mulheres entre 18 e 60 anos que vem lidando com esse problema a vida inteira. O mesmo vale para quem calça menos de 36, as Plus Size e as Mignon, todas gostam de coisas bonitas a preços acessíveis e com qualidade, e nenhuma delas tem o privilégio de encontrar seu número de roupa ou sapato em qualquer loja de esquina.

O resultado da falta de opções no mercado mexe não apenas com o bolso, mas principalmente com o emocional. Com o desgosto constante de passar por uma vitrine, amar alguma coisa, e saber que ela não te serve, pois quem a desenhou e produziu não o fez para a massa, fez para um público com padrão limitado e que não corresponde nem de longe ao que constitui uma sociedade. Designers e estilistas, busquem sair um pouco do mundo no qual vocês escolheram viver e olhem para o mundo no qual todos vivem. Talvez esse relance os faça perceber a diversidade de gostos e tipos que vem sendo negligenciados por décadas.

É movida por um desejo profundo de fazer alguma diferença e estimular a melhora desse mercado que escrevi esse texto. A sociedade do consumo abraça também os grupos menos representados. As novas gerações vem com ainda mais diversidade pessoal, e com ainda mais desejo por coisas bonitas, novas, e as querem em quantidade. O consumismo massivo de bens e serviços disponíveis está sendo alimentado graças a toda essa tecnologia, a conexão constante com as marcas através das redes sociais, a variedade e a elevada produção dos mesmos. Para quem quer crescer nesse negócio, a prioridade deveria ser atrair novos públicos e saciá-los oferecendo aquilo que necessitam. Dar voz aos ignorados e atender a lei da Oferta e Procura desses nichos pode ser mais uma porta para o sucesso, e para isso, basta que ela seja aberta…

Ninguém faz melhor propaganda de uma marca ou produto do que aqueles que o consomem.

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Maldito Cliffhanger

Maldito Cliffhanger

No último domingo tivemos o encerramento da 6ª temporada de The Walking Dead, que terminou com um cliffhanger¹ agonizante… Serão mais de seis meses de espera, caso o lançamento da próxima temporada não seja adiado, para saber qual das lindas cabeças do elenco bateu um papo íntimo com Lucille, a arma preferida de Negan (Jeffrey Dean Morgan). Sabemos o que aconteceu, mas não com quem aconteceu… E por mais que tentemos adivinhar fazendo o uni-duni-tê junto com Negan na cena final, ele não segue uma ordem na hora de apontar o bastão, o que dificulta a dedução de quem foi vítima de sua psicopatia sadista.

A AMC já anunciou que não pretende encerrar The Walking Dead tão cedo… E o que pode trazer algum consolo para os fãs é a certeza de que vai haver uma continuidade e com ela virão (taquicardia e dores no peito) as respostas, mas muitas séries que terminaram temporadas com cliffhangers não tiveram a mesma sorte, e para quem gostava e assistia esses programas foi necessária muita conformidade para aceitar que as conclusões nunca viriam. Então decidimos listar três programas de drama, horror e mistério que foram queridinhos de audiência e acabaram cancelados, terminaram em clima de tensão e deixaram várias pontas soltas…

The Following (2013-2015)

A série estreou com uma proposta inovadora e muito bem executada; e se não valesse pelo enredo, valeria para ver o Kevin Bacon correndo com uma arma na mão. Acredite, é muito engraçado.

Na trama, o serial killer Joe Carroll (James Purefoy), conseguia, de dentro de uma prisão de segurança máxima, manter contato e fazer planos com seu grupo de seguidores. Por duas temporadas o programa trabalha com a dinâmica de cultos, que são muito comuns nos Estados Unidos, e a fixação de Joe pelo agente do FBI responsável por seu encarceramento, Ryan Hardy (Kevin Bacon)… Entretanto, a 3ª temporada vem com uma proposta diferente, que traz a tona o que podemos chamar de briga de cachorro grande. Em sua ideia inicial, a série mostra que nenhum assassino trabalha 100% sozinho. Embora tenham nascido com sociopatia/psicopatia, não nasceram sabendo matar. Eles possuíam o desejo, mas precisaram ser treinados e ensinados como matar com segurança. Assim sendo, alguns deles se conhecem, sabem se encontrar, funcionam como mentores para os mais jovens, e ajudam uns aos outros quando necessário… Tudo em nome de uma boa derramação de sangue e desde que não sejam expostos publicamente.

Em certo ponto, a caçada de Ryan pelos serial killers que vão surgindo começa a ameaçar a privacidade de alguns desses indivíduos, que decidem se unir para destruir, em nome da vingança ou da autopreservação, o agente do FBI e todos os seus entes queridos. E assim, poucos episódios antes do fim da 3ª temporada uma nova trama se apresenta, mostrando para Ryan e para o público que as pessoas contra as quais ele vem lutando não são apenas simples assassinos de periferia socialmente excluídos, mas que também há uma classe de poderosos protegidos por exorbitantes quantias de dinheiro e influência pública. A série termina nesse imenso cliffhanger, provavelmente o maior desde seu início e contando com a certeza de ter audiência para temporadas futuras, mas nem tudo saiu como planejado… O programa foi cancelado deixando os fãs enlouquecidos, movendo petições para conseguir pelo menos um encerramento apropriado.

Hannibal (2013-2015)

Talvez você esteja pensando que Hannibal teve um final, e portanto, não deveria estar incluída nessa lista, mas eu vou explicar o motivo de estar aqui… Embora tenha recebido um roteiro de finalização, não é difícil perceber que aquele encerramento foi totalmente forçado para não deixa a série em aberto. Houve uma correria dos autores para encaixar soluções (meia-boca) as tramas que vinham sendo apresentadas, e para dar uma resolução à situação de Will Graham (Hugh Dancy) e Dr. Lecter (Mads Mikkelsen) de forma que não houvesse brechas para os fãs aguardarem uma nova temporada.

O motivo disso é de conhecimento geral, o programa foi cancelado com justificativa de perda de audiência, a qual acredito que ninguém engoliu… O que parece ser mais provável é que ela tenha sido censurada e descontinuada pelo caráter visceral de sua proposta, e pela paixão do público pelo serial killer em questão… E a mesma lógica se aplicaria a The Following. Tudo indica está havendo um tipo de caça às bruxas, só que no caso, aos programas policiais nos quais os assassinos se tornam socialmente mais aclamados que os mocinhos.

Em parte, o fim de Hannibal foi bem considerado com os sentimentos dos fãs; Antes aquilo do que ficar para sempre sem saber o que poderia ter acontecido, mas para uma série desse nível, o final apresentado não foi nada satisfatório, especialmente por não soar de fato como uma conclusão, e sim como começo de uma relação mais honesta entre Will e o doutor canibal. Ainda que a última cena sugira um acontecimento irredutível, para quem gostava do show não é tão impossível imaginar uma continuação e um outro desfecho…

Angel (1999-2004)

Essa série, que surgiu como um spin-off² de Buffy³, fala sobre Angel (David Boreanaz), um dos vampiros mais terríveis da história que foi amaldiçoado e teve sua alma restaurada. Fadado a sofrer com o peso na consciência das atrocidades que cometeu antes de receber sua alma de volta, e sem poder experimentar um segundo sequer de felicidade sem arriscar perdê-la, Angel decide dedicar sua existência no combate contra o mal. É preciso dizer que nessa realidade nem todos os demônios são ruins, e com a ajuda de alguns amigos (demônios e humanos), ele se empenha em caçadas isoladas a seres verdadeiramente malignos, e a uma briga mais direcionada contra uma firma de advocacia que age na cidade de Los Angeles com financiamento direto do tinhoso.

Quando Angel finalmente consegue fazer o bem mais presente do que o mal, ele destrói o equilíbrio que deveria existir entre essas forças, o que o leva a acidentalmente desencadear um apocalipse. Assim se encerra a 5ª temporada da série e a série como um todo… Enquanto Buffy teve um final apropriado, Angel é cancelada no nascer desse apocalipse, com todo o seu grupo desfalcado e sem saber quem sobreviveu para continuar a seu lado na luta, e ainda que também tenha sua continuação em comic book, não é o mesmo que assistir ao desfecho de uma história dessas proporções com os atores em ação.

Vale dizer, para quem gosta de programas dessas natureza, que Buffy e Angel são consideradas predecessoras de Supernatural nessa classificação… Mais de dez atores do elenco das séries originais de Joss Whedon já fizeram participações especiais no programa dos irmãos Winchester, e há muito debate na internet sobre similaridades e crossovers⁴ entre as séries.

***

Se você tem problemas com falta de conclusão, especialmente durante o clímax de uma história, não aconselhamos que assista a nenhuma dessas séries… Talvez apenas Hannibal, que apesar dos pesares teve uma conclusão, ainda que não tenha sido a ideal… Mas se você, assim como eu, já tem anos de experiência com seus programas favoritos sendo cancelados durante o maldito cliffhanger, sem mais, nem menos, e já não se afeta tanto por não saber como tudo vai terminar, fica aí a dica de três ótimos programas com as quais se entreter enquanto você aguarda o fim do hiato dos shows que costuma acompanhar.

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¹ Cliffhanger: É um recurso de roteiro utilizado em ficção, que se caracteriza pela exposição do personagem (ou personagens) a uma situação limite, precária, tal como um dilema, suspense, confronto, ou uma revelação surpreendente.

² Spin-off:  é um programa ou qualquer obra narrativa derivada de uma ou mais obras já existentes. A diferença entre um spin-off e uma obra original é que ele se concentra, em particular, mais detalhadamente em apenas um aspecto, por exemplo, um tema especifico, personagem ou evento.

³ Buffy: foi uma série criada por Joss Whedon em 1997. A narrativa segue a vida de Buffy Summers (Sarah Michelle Gellar), a mais recente numa linha de jovens mulheres conhecidas como Caçadoras. As Caçadoras são escolhidas pelo destino para a batalha contra vampiros, demônios, e outras forças das trevas. Tal como anteriores Caçadoras, Buffy é auxiliada por um Conselho de Sentinelas, que orienta, ensina, e as conduz. Ela também conta com a ajuda de um círculo de amigos leais, que se torna conhecido como Scooby-Gang. Angel é introduzido logo nos primeiros episódios da série, e esconde sua condição de vampiro para se aproximar da Caçadora, por quem está apaixonado. Ao fim da 3ª temporada, Angel deixa a série para ganhar um programa só dele.

Crossover: é um evento fictício em que dois ou mais personagens, cenários ou acontecimentos sem qualquer relação anterior em produtos de mídia (filmes, quadrinhos, seriados, etc) que passam a interagir compartilhando o mesmo ambiente narrativo.

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Negan e o futuro de The Walking Dead

Negan e o futuro de The Walking Dead

AVISO
CONTÉM SPOILERS SOBRE O UNIVERSO DE TWD
SE NÃO QUISER SABER, NÃO LEIA!

Produzida pelo canal americano AMC e exibida pela Fox Brasil, The Walking Dead se tornou um dos programas favoritos do público desde o lançamento, em 2010. Seus personagens cativantes e a inteligência dos autores em terminar (quase todos) os episódios e obrigatoriamente todas as temporadas com cliffhangers¹ chocantes são bons exemplos de como manter o sucesso e a audiência crescentes. Falta apenas um episódio para a conclusão da sexta temporada, o que para fãs significa uma morte péssima, literalmente… Para quem está familiarizado com a série, todo season finale² é relativamente igual; Alguns personagens importantes morrem, enquanto outros são capturados por grupos rivais e permanecem desaparecidos… Só voltam a ser mencionados na temporada seguinte, o que nos leva a meses de ansiedade sem saber se aquele queridinho vai passar apenas alguns episódios desfalcado do grupo ou morrer.

Em meio a tantas dúvidas apenas uma coisa é certa, o objetivo dos roteiristas é brincar com os nossos sentimentos. E para provar isso podemos fazer uso de um personagem de peso nos quadrinhos que finalmente começou a ser introduzido na versão televisionada. O nome Negan vem sendo citado por meses. Embora gradativamente sua imagem tenha deixado de ser tão abstrata, até o season finale ele não foi propriamente apresentado. As representações que cercam esse indivíduo deixam claras, desde o começo, o caráter desse antagonista, que demonstra ser pior do que o finado Governador. Interpretado pelo ator Jeffrey Dean Morgan (Supernatural), Negan surge como charmoso e encantador, ainda que bastante agressivo… Diferentemente do Governador, que comandava um pequeno complexo de cidadãos majoritariamente despreparados, Negan é o chefe dos Salvadores, um grupo de homens violentos cuja moeda de troca é a chantagem, coerção, e por fim o assassinato de todos que não acatam as suas exigências.

No contexto do que já foi exibido da série, Negan também é apresentado como um tipo de organização. Em dado momento, alguns membros do grupo dos Salvadores são confrontados sobre a identidade de seu chefe. Quando questionados, eles atribuem a si mesmos esse título com “Nós somos Negan”, o que remete a um comportamento de cultuação. Só isso já seria suficiente para revelar o poder de controle e persuasão do personagem. Tudo que seus seguidores fazem demonstra ser em proveito dele e do que ele construiu. Que forma melhor de convencer alguém a morrer e matar por você do que torná-lo parte crucial daquilo que você criou? Em meio ao caos de uma realidade pós-apocalíptica, e a julgar também pelo nome atribuído àqueles que trabalham em seu benefício (Salvadores), é de se supor que a imagem de Negan seja abordada de forma religiosa, como alguém a ser seguido, temido e adorado.

Apesar de toda a tensão que cerca esse novo núcleo de antagonistas, o que torna curioso o desenrolar da sétima temporada é justamente o carisma do bandido em questão. O Governador tinha seu charme, mas Negan parece ser bem mais competente que ele no que diz respeito à conquista e controle. Com um senso de humor peculiar e paixão por bombas, sua arma preferida é Lucille, um taco de baseball enrolado com arame farpado. Embora mate de cara um dos preferidos do público na HQ, o que causa um grande impacto no grupo, a incerteza de que esse acontecimento seja trazido para a série tem sido um dos causadores de maior ansiedade entre os fãs, principalmente pela possibilidade de que essa morte seja rearranjada para outro personagem. Sim, estamos falando sobre Daryl, que sequer existe na história original e pode se tornar o alvo, tendo em vista que é um dos pilares da turma do Rick e pela predileção popular por ele já ter causado incômodo nos roteiristas.

Com os quadrinhos ainda sendo escritos, e para somar mais de imprecisão ao caminho que a série irá tomar, na leitura Rick declara guerra a seus adversários, e conta com a ajuda de Jesus, da comunidade Hilltop e do ainda não apresentado Rei Ezekiel, de uma comunidade chamada O Reino, o que novamente sugere o caráter religioso que vem tomando forma no programa. No arco do comic book lançado mais recentemente, Negan ainda é um personagem ativo e muito presente na vida de Rick. Ele tem um laço único com Carl… Não sabemos se esse relacionamento será explorado nem a maneira como isso vai se dar, mas sabemos que Negan é um tirano que veio para mudar o rumo de toda a história. Para completar, a mensagem que Morgan prega que toda vida é preciosa, vai afetar o inconsciente de Rick como vem sendo mostrado que afetou o de Carol, e as perdas que essa ideologia irá trazer para o grupo, só esperando para saber…

Creio que o desenrolar da próxima temporada seja vital para definir a renovação ou o cancelamento da versão televisionada dessa obra. Embora o alcance de The Walking Dead seja grande, a morte de determinados personagens tem pleno poder de provocar o desinteresse do público. Robert Kirkman que pense bem no que ele vai fazer…

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¹ Cliffhanger: É um recurso de roteiro utilizado em ficção, que se caracteriza pela exposição do personagem (ou personagens) a uma situação limite, precária, tal como um dilema, suspense, confronto, ou uma revelação surpreendente.

² Season Finale: Significa “final de temporada” e se refere ao último episódio de uma temporada quando ainda há outra posterior. Caso seja o episódio final do programa como um todo, o termo correto seria Series Finale.

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