Reflesexta I: Atenção Virtual do Amigo Real.

Como adoramos inventar palavras, aí vem mais uma para o nosso dicionário particular: Reflesexta trarão pequenas (ou nem tanto) reflexões sobre a vida. Serão as nossas historinhas de fim de semana, sempre publicadas às sextas, para você matutar um pouquinho aí durante a folga… Então vamos ao primeiro tema da série:

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Os conceitos de amizade, carinho e consideração hoje em dia são bem deturpados, não é?

Se você considera alguém seu amigo, e acredita que essa pessoa também te considera um amigo; Se você apoia os projetos, curte, compartilha, mostra para outras pessoas, e depois descobre que seu ~amigo~ não tira 5 segundos para fazer o mesmo por você, ou sequer para te seguir de volta numa rede social ou comentar as publicações dos seus projetos pessoais, a amizade, o carinho e a consideração que você sente por ele acabam sendo afetados negativamente.

Por mais que pareça estúpido, rola uma mágoa genuína. As redes sociais definitivamente vieram para mudar a forma com que interagimos, agimos e reagimos às coisas. Isso tem seu lado negativo, e tem também o seu lado positivo. E nesse caso específico, talvez até um unfollow rancoroso ocorra, tipo: “se você não me segue/apoia, não serei eu que vou ficar aqui dando ibope para o que você faz.” Fizemos tanta piada com o papel de trouxa que esquecemos que ele realmente existe e muitas vezes nós nem percebemos que estamos fazendo.

E quando você vê que além de não haver reciprocidade no apoio, esse ~amigo~ apoia/da ibope para artistas que estão longe de sua realidade, famosos que já estão consagrados e não precisam daquele like ou daquele compartilhamento que ele da com tanto bom gosto, a situação fica ainda mais chata. Claro que ele não deve deixar de seguir e apoiar quem ele gosta, mas custa tanto assim fazer o mesmo por você?

Pior que isso é descobrir que seu bff está curtindo projetos de pessoas que ele sabe, foram sacanas com você, mas não está nem aí para o seu. O sentimento que desperta não se restringe mais ao online, e isso afeta de verdade a sua relação com a pessoa. Sim sim, parece idiota, mas o apoio ou a falta dele deixam claro o desinteresse do outro, e tomar consciência do desinteresse de alguém que você estima, e alguém que diz se preocupar e te amar, mesmo que seja aparentemente apenas um desligamento virtual, pode ser fatal até para as amizades mais antigas.

E por que, se parece ser um motivo bobo para deixar afetar seu relacionamento, isso ainda importa? Porque a reflexão dessa falta de apoio toca no que é real dentro de você e em tudo que vocês compartilham como amigos.

O conselho da sexta feira é: preste sempre atenção nos seus amigos-de-fé-irmãos-camarada, eles podem ter abandonado esse posto na sua vida, enquanto você continua perpetuando rituais de parceria unilaterais. E para vocês que são amigos de alguém, deem atenção ao que eles produzem. Com certeza o seu carinho vai render mais frutos quando direcionado ao seu amigo, do que àquela banda ou àquela pessoa distante, que nem faz parte da sua vida, mas para qual você dedicou 5 ou mais segundos de atenção, enquanto negligenciava quem tem te apoiado.

Bom fim de semana, Leigores ☕️

Nem Sempre Confesse

Nem Sempre Confesse

Resolvi aproveitar o clima do confesse que está rolando por causa de Game of Thrones para publicar esse texto que está há meses na minha gaveta… Isso poderia ter sido um desabafo, uma confissão cara a cara, mas optei que não fosse, pois se confessar nem sempre vale a pena.

Conheço uma mulher há tantos anos que meu primeiro instinto é chamá-la de menina. Bom, ela já fez 20 e muitos anos e nós comemoraríamos duas décadas de amizade… Se ainda fossemos amigas. Decidi não transformar meus incômodos e mágoas com ela numa DR, muito menos numa tentativa de consertar as coisas entre nós. É de se esperar que em tanto tempo nós tenhamos tido os nossos atritos e breves períodos brigadas uma com a outra. Não era uma amizade perfeita e nem teria como ser, uma vez que nós não o somos.

Passamos por muitas coisas juntas e no ano passado houve um incidente que invocou o basta dentro de mim. Depois de certa experiência com as pessoas você se torna mais prático na vida, e passa a decidir por quais lutas vale a pena brigar, e por essa não valia. Em nossos raros contatos, antes do momento basta, voltávamos àquela velha máxima de “vamos marcar”, e nunca de fato marcávamos. Eu tentava, mas aos poucos fui notando que essa manifestação da parte dela era totalmente vazia. Também fui chegando à conclusão que eu não sabia nada sobre a vida daquela grande amiga de longa data, mas que sempre que nos falávamos eu contava tudo o que havia acontecido na minha.

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Outro dia vi a história de David que, ao começar a amadurecer deixou de lado seu melhor amigo de infância, Scott. O primeiro já pensava em namoro, enquanto o segundo ainda se agarrava aos velhos hábitos de infância. Havia uma crescente diferença de interesses entre os dois, e nenhum adolescente conseguiria lidar com essa situação com sabedoria emocional. David então acabou se afastando de Scott por achar que seu comportamento atrapalhava sua imagem perante os colegas.

E o que aconteceu no decorrer da narrativa surpreendeu a todos… Scott estava fazendo aniversário e não abriu mão da presença de seu melhor amigo durante a comemoração. Forçado a ir pelos pais, que nunca tem noção do quanto seus filhos são capazes de mudar do dia para a noite, David compareceu. E, durante a festa, Scott sofre um acidente e morre. David, que estava odiando cada segundo presencia o acidente e embarca num espiral de culpa por ter sido negligente com aquele que havia sido seu primeiro e único amigo de longa data.

No dia seguinte, na escola, embora 97% dos alunos do colégio sequer soubesse quem Scott era, tomar consciência de que alguém que caminhava naqueles mesmos corredores ontem, está morto agora, abala a ideia que os jovens costumam ter de que esse tipo de coisa nunca vai acontecer com eles ou com alguém próximo. Logo começam a inquerir David sobre Scott, seus hábitos e gostos, e isso o tira do sério. O adolescente explode diante de todos.

Ele admite que vinha sendo um péssimo amigo para Scott, mas acusa todos ao seu redor de também estarem sendo. Ressalta que embora estivesse tratando Scott mal, essas pessoas que agora parecem super interessadas nele também o tratavam mal o tempo todo. Que não faz diferença nenhuma que queiram conhecer Scott, agora que ele está morto, através de suas memórias, e que ao invés disso deveriam demonstrar um mínimo de interesse, cuidado e carinho por aqueles que chamam de amigos e ainda estão vivos.

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Eu demorei a perceber que eu era amiga daquela mulher, mas que, por diversos fatores ela não era minha amiga. O caso é que existem conflitos e diferenças pessoais que podemos superar, e outras ocorrências que às vezes sequer podem receber essas denominações pois não passam de acontecimentos naturais da vida, mas que nos levam por caminhos opostos, e que podem terminar de descascar aquele pneu careca em que uma relação havia se tornado e determinar a estrada que uma amizade irá tomar.

O foco aqui não é falar sobre o que aconteceu comigo, nem com o David e o Scott, mas usar esses cases como exemplo para que talvez você possa refletir e reconhecer algo de errado nas suas relações. Para que haja tempo de evitar o afundamento do barco, caso se julgue possível e seja da vontade de ambos. E não só isso, o tópico é também explicar que eu escolhi o naufrágio dessa amizade, pois acredito que não devemos lutar por certas coisas. As relações – e isso é uma verdade universal – são uma via de mão dupla.

Na medida do possível, tente não cobrar e não exigir nada de ninguém. Na verdade, quanto menos você precisar emocionalmente dos outros, melhor para você, mas caso tenha certas dependências emocionais, entenda, se o carinho ou a amizade não vierem naturalmente é porque o outro não quer, não acha importante, não tem interesse. Não se diminua e não mendigue atenção como o Scott fez para se agarrar ao David, não ignore o que te incomoda e empurre mágoas com a barriga como eu fiz para evitar conflitos.

Se você acha que a sua relação com alguém é frágil e não vai resistir a mais uma ou duas pancadas, ou simplesmente, não vale a pena se indispor desse jeito por motivo nenhum, é provável que nem exista mais uma relação para ser salva, apenas a lembrança do que um dia ela foi. Você não precisa entrar num pé de guerra e terminar algo de forma desagradável só para reforçar o status que de certa forma já era vigente. Pior que perder um amigo é querer forçar alguém a querer continuar a ser seu amigo… Não confesse. Deixe estar… E de vez em quando, ria das boas lembranças que você vai inevitavelmente guardar.

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Quem tem Tinder, tem medo.

Quem tem Tinder, tem medo.

Pergunte a qualquer um que tenha uma conta no aplicativo: é comum sentir receio ao criar um perfil com a sua foto, muitas vezes linkado ao Facebook, e não imaginar quem vai passar pela sua página nesse cardápio humano; Uma pessoa com a qual você cortou relações, um(a) ex qualquer coisa, amigos do(a) ex qualquer coisa, uma pessoa para a qual você se declarou morta, mas que você sabe que te stalkeia, e incontáveis outras desequilibradas e com caráter duvidoso. Dependendo também de como a sua mente funciona, fica impossível não começar a imaginar alguém que você detesta dando match em outro alguém que te fez muito mal, e prontamente visualizar a cena dessas duas pessoas terríveis sendo felizes juntas…

Poucas coisas no mundo são tão ruins quanto ver gente que não presta se refastelando na vida, e uma delas pode ser a experiência de tentar formar um vínculo com alguém 100% estranho estando atrás de um aparelho eletrônico. Sou muito liberal com algumas coisas, mas o Tinder traz a tona o conservadorismo que há em mim. Constatei que não gosto da dinâmica do serviço e do comportamento geral por lá. O aplicativo fornece seu nome e idade, local de trabalho e estudo, espaço para 6 ou 7 fotos e 500 caracteres caso você deseje colocar alguma descrição. São inúmeras as formas para julgar alguém num ambiente desses. Embora o que esteja exposto para primeiro impacto seja bastante restrito, tais informações acabam sendo marcantes pra alguém que, como eu, usa repelente a base de ceticismo quando tem que lidar com o desconhecido.

Depois de determinada idade, que varia de pessoa para pessoa, ficamos cheios de manias… Não da mais para aturar certas coisas, nem se misturar com todo tipo de gente. Passamos a utilizar filtros cuja exigência cresce de acordo com nosso amadurecimento, objetivos, decepções e gostos pessoais. Não é mais tão simples querer fazer parte da vida de alguém e deixar que esse alguém faça parte da sua também. Existem requisitos a serem preenchidos… A primeira impressão sempre vem pela foto de capa. Ali já da para saber se vale a pena ou não abrir o perfil para ver um pouco mais. Passo direto por gente na praia, cachoeira, no futebol, fazendo trilha, esportes radicais e naquelas muvucas sociais. Não tenho nada em comum com alguém que tem essas atividades como prazeres primários…

Passada essa fase da triagem, chegamos ao “sobre”, e aí o que pode parecer puro preconceito reflete, na verdade, um senso de autopreservação muito grande. Se tem WhatsApp publicado e/ou está pedindo seguidores no Snapchat/Instagram? Passo. Expressa apoio/uso de drogas, dependência alcoólica e/ou fanatismos? Passo. Erros de português, concordância, falta de coerência e frases obsoletas tipo: Foco, força e fé – Deus no comando sempre – Vem que no caminho eu te explico? Passo! Eu me conheço bem, não quero contato com quem que se expõe tanto, com alguém que da tanto valor aos likes e follows da vida online, com vícios que desaprovo, com déficits difíceis para um jornalista engolir, e alguém incapaz de se expressar com as próprias palavras em menos de 500 caracteres.

Se uma amizade assim eventualmente surgir será naturalmente, por contato direto, nunca por uma busca online, e o que faz diferença nesse caso é justamente a questão de se tratar de uma busca. É muito diferente entrar na vida de alguém por ação do destino e procurar fazer parte da vida de alguém através de um meio digital. Na internet, a avaliação se torna mais criteriosa pois ela grita que, se tudo der errado para você, a culpa é sua. Se foi algo que você mesmo procurou, e além de procurar, permitiu, você só tem a si mesmo para responsabilizar por qualquer cilada na qual venha a se meter. É provável que você justifique seu sofrimento com a transgressão alheia e sinta pena de si mesmo por ter sido sacaneado, mas não é nada fácil admitir que talvez você esteja passando por algo desagradável por ter sido permissivo e inconsequente.

Para evitar tudo isso eu antecipo possibilidades, não faço nada tomando por garantia a certeza. Meses atrás uma amiga me convenceu a abrir uma conta no Tinder. Ela contava regularmente histórias divertidas com pessoas legais que encontrou através do app. Lá pelo vigésimo sétimo relato de pessoa incrível, resolvi arriscar. Essa experiência serviu mais como autoavaliação crítica e estudo antropológico, do que realmente uma forma de conhecer gente interessante, embora eu tenha conhecido uma ou duas. Me vi diante de desafios morais ao utilizar o aplicativo, especialmente quando meu superpoder de Overthink¹ entrava em ação. Se eu começasse a conversar com alguém que diz que não se diverte sem bebida, meu superpoder era acionado… Ele me colocava num Flashforward² e me fazia visualizar um futuro que ainda era apenas uma possibilidade.

Nesse futuro imaginário nós éramos amigos, e essa pessoa que não se divertia sem bebida há muito já se tornara um alcoólatra. Ao voltar para o presente, instantaneamente surgiam as perguntas: Vale a pena? Vale a pena abrir minha vida para essa pessoa, que já se mostra bastante problemática, me importar com ela, para mais tarde ter que lidar com isso? Vale a pena arriscar perder uma amizade caso a pessoa não admita que precisa se tratar? Vale arriscar me tornar vítima de qualquer insanidade temporária causada pela mistura perigosa do meu amigo? E após pensar em muitas mais perguntas como essas, o meu interesse pela pessoa e em ter qualquer tipo de envolvimento com ela caíam por terra.

Todos temos bagagem. Todos temos qualidades, defeitos e vícios; Fantasmas e coisas mal resolvidas, mas algumas são mais graves e pesadas que outras, e tem coisas com as quais não vale a pena lidar. É horrível pensar em deixar alguém de lado por sua bagagem, mas quando você admite que existe uma possibilidade de futuro, por menor que seja, você precisa considerar que, como amigo ou como algo mais, os problemas dela (dependendo de quais forem) podem te afetar, e você já tem problemas suficientes com os quais lidar. Qualquer relacionamento exige troca, apoio… É praticamente impossível não se envolver nos dilemas de alguém por quem você tem grande estima, e eu costumo ter bastante pelos meus.

É natural do ser humano ter medo de não ser amado, medo de ficar sozinho. Acredito que ninguém que inicia a formação de um vínculo imagina o seu fim, sexo casual e contatos profissionais não se enquadrariam nesse contexto de vínculo. Acredito que ninguém idealiza uma amizade problemática, com prazo de validade… Ninguém quer amigos para curtir sexta feira a noite e com os quais não se pode contar para nada além disso, nem deseja se apegar a alguém e depois ver essa pessoa ir embora, por qualquer que seja o motivo… A ideia que as relações passam é que serão sólidas e eternas, mas conforme essa inocência é perdida, elas se mostram frágeis. Isso também é natural do ser humano, e já que as coisas acontecem assim, seja no Tinder, na vida real ou virtual, não custa nada ter prudência antes de deixar alguém entrar no seu mundo.

Não sei vocês, mas eu prefiro não ter que me despedir de ninguém.
E se quem tem Tinder não tem medo, acho que deveria começar a ter…

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¹ Overthink: ato de pensar demais.

² Flashforward: é a interrupção de uma sequência cronológica narrativa, uma forma de apresentar um momento futuro.

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Orgulho Gay

Orgulho Gay

Estava revendo um seriado com temática LGBT que adoro, Queer As Folk, produzido pelo canal Showtime entre 2000 e 2005. No programa, uma personagem em particular sempre chamou minha atenção. Debbie Novotny é uma orgulhosa mãe PFlag¹ de um dos cinco protagonistas. Quando era adolescente e assisti isso pela primeira vez, a Debbie era apenas uma pessoa incrível. Alguém cujo comportamento serviria como espelho caso algum dia eu venha a ter um filho(a) que não se identifique com o que a sociedade (em sua maioria) espera que ele(a) seja em termos de identidade de gênero e orientação sexual.

Agora, 8 ou 9 anos desde que assisti esse programa pela primeira vez, muita coisa foi conquistada pela comunidade LGBT. Há uma crescente luta contra o preconceito, a criminalização de atos homofóbicos, a legalização da união entre pessoas do mesmo sexo em diversos países… Muito foi feito, mas muito mais ainda precisa ser. E apesar das vitórias, em nenhum momento a legitimidade dessa luta deixou de ser real e necessária na minha consciência e no meu coração.

Na série, alguns personagens passam pelo conflito da descoberta e revelação da própria sexualidade e sofrem com a reação de familiares a sua realidade. E em algumas dessas relações há um grande esforço por parte do familiar para dizer: “ei, eu te amo assim mesmo.” Me peguei pensando no motivo da afirmação desse sentimento ser um esforço para algumas mães, enquanto para a Debbie é muito simples amar e apoiar o filho dela. Por que é necessária uma luta interna para aceitar a sexualidade do outro, para só então conseguir demonstrar aceitação?

Essa é uma questão que nunca vou entender, pois esse sentimento vem para mim de uma forma muito natural. Sou grata por ter tido uma educação livre de preconceitos e um bom senso desde muito nova a respeito das diferenças que existem no mundo, e no quanto essas diferenças não me incomodam nem um pouco. O que sempre me soou relevante é o bom caráter, a escolha das ações que executamos em relação ao outro, a noção de certo e errado de cada um. Entretanto, pensando no comportamento das mães do programa, fui aplacada pelo pensamento: Por que, em caso de aceitação, é necessário reforçar o orgulho?

Existe a resposta óbvia: são tantos conflitos internos antes da decisão de assumir a própria sexualidade que não faz mal nenhum receber demonstrações de apoio e ouvir o quanto você é amado, mas me ocorreu uma outra justificativa para esse orgulho. Mesmo não tendo filhos, acho que consegui compreender a causa. Dizer que mães tendem a ter orgulho do próprio filho é como dizer que o céu tende a parecer azul aos nossos olhos na maior parte dos dias. Então não levo em consideração esse sentimento comum a quase todas, e trago a dúvida e a resposta unicamente para a realidade das mães PFlag.

O orgulho não é de ter um filho, ou do seu filho ser gay. O que talvez ninguém tenha tido coragem de dizer é que não há nada de especial em ser gay. Dizer isso não torna a condição nem boa, nem ruim. Eu jamais diria que ser gay é errado. O que quis dizer é que é normal. Não há nada de extraordinário em ser gay, como não há nada de extraordinário em ser hétero ou qualquer outra coisa. Especial é ter um QI acima da média, é ter bons modos num mundo em que os valores estão distorcidos, extraordinário é conseguir dar um nó no cabo da cereja com a língua.

No fim das contas a questão acaba sendo mostrada de forma errada. Quando o orgulho passou a ser linkado a condição gay, ele foi deturpado. Sem generalizar, fala-se muito de orgulho gay no automático, sem buscar aprofundamendo no significado da expressão e no sentimento ao qual ele remete. Eu mesma não estou buscando tanta profundidade assim, estou apenas externando brevemente um insight que tive ao ver uma série. Qualquer aprofundamento nessa questão exigiria muito mais do que um texto informal de pouco menos de 900 palavras.

Esse esclarecimento do sentimento do orgulho surgiu para mim traduzido no fato de criar alguém forte e corajoso o suficiente para ir contra o que ditam certo. Alguém leal aos próprios sentimentos ao ponto de se dispor a enfrentar um mundo de rejeições para continuar sendo quem é. O orgulho é por ter um filho que tem peito pra dizer “eu não me encaixo nesse padrão e não vou tentar, pois não sou obrigado.” Ser gay não faz ninguém melhor ou pior, mas ter coragem para ser gay num mundo em que isso é condenado por grande parte da sociedade, isso sim é motivo de um extraordinário orgulho.

Todo o meu amor aos amigos e desconhecidos, gays e simpatizantes,
que não se desistem da luta e não deixam o preconceito vencer 

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¹ PFlag é uma organização sem fins lucrativos para parentes, amigos e outros simpatizantes de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT).

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